Por todo o lado sangra energia.
O texto seguinte pode conter spoilers do conto “O Coração É Um Predador Solitário”
O Coração É Um Predador Solitário, escrito pelo astro da Ficção Científica nacional, João Barreiros, foi publicado no fanzine Lusitânia em 2013. É um retorno ao mundo fantástico da antologia Lisboa no ano 2000, que acabei de ler já este ano, pelo que é um mundo ainda bem presente na minha memória. Para quem não está familiarizado com Ficção Científica, a escrita de João pode até ser um pouco confusa, mas a genialidade do autor consegue fazer-nos admirar não só a sua fluidez narrativa quanto a sua erudição científica.
No mesmo mundo distópico de Lisboa no Ano 2000, a ação acompanha Eduardo Sequeira, um “caçador” de destroços que mergulha na Baía de Cascais em busca de um artefacto – O Coração – um objeto de poderes indescritíveis que se mantém pulsante bem no interior de um imenso cadáver mecanóide, a Serpente. No início da história visualizamos o encontro entre Eduardo e o espetro de um alemão pertencente à Grosse Germânica que ele conhecera no passado. É através da sua retrospectiva que conhecemos a incursão de Eduardo ao interior da Serpente e o seu confronto com o alemão, um confronto pela posse do Coração, enriquecido pela aparição surpreendente de uma avatar feminina produzida pelo próprio artefacto.
OPINIÃO:
Este Coração é possivelmente o segundo conto que mais gostei do autor. E podia excluir as palavras “do autor”, porque, sem dúvida, os dois contos que mais gostei de ler foram do João Barreiros. O primeiro continua a ser Mais do Mesmo da antologia Os Anos de Ouro da Pulp Fiction Portuguesa, e apenas porque me divertiu imenso. Sou fã deste autor apesar de saber ser muito crítico nos contos dele que não gosto. Não é uma escrita “familiar”. Não são livros de levar no bolso. A escrita é irónica, rica em conhecimentos científicos e em mensagens subliminares. O Coração É Um Predador Solitário não foi exceção. Mas foi uma leitura extremamente agradável.
Ele não se limitou a escrever o conto. Ele pintou-o. A escrita está extremamente visual, descreve o seu mundo de uma forma subtil e detalhada, sem esquecer nenhum pormenor. E, ou eu sou um perfeito leigo ou João prima pela originalidade.
A visão futurista não é completamente original, mas os toques que ele lhe dá, a caricatura que faz dos personagens com as suas tiradas sarcásticas conquistam-me. Neste conto, ao contrário de outros, ele conseguiu ser minucioso sem ser cansativo, conseguiu ir divertindo ao mesmo tempo que nos contava a história com todos os pormenores científicos que fazem parte da sua identidade como autor e que têm o seu inegável mérito.
Algo que eu sinto falta neste conto é o desenvolvimento de personagens, pelo menos o personagem principal, pouco ou nada conhecemos do Eduardo, nem a nível físico nem moral. E daí, podemos imaginá-la. Essa lacuna é desculpável pela forma como a ação decorre, o ritmo do conto surpreende-nos e a reviravolta final é o remate com chave de ouro num conto que me agradou muito. Destaco ainda o facto de o autor ter-me mostrado a extensão do “mundo Barreiros” neste conto. Ou seja, inseriu elementos de outros contos que ele já tinha escrito, como A Mina do Deus Morto e as partículas dessa “divindade” no interior do Coração, já para não falar em todo o contexto do Lisboa no Ano 2000 e essa força maléfica chamada Legião. 😀
Aconselho vivamente, mas se não lerem os outros contos do autor referidos nesta crítica, é muito provável que fiquem a apanhar bonés.
Avaliação: 9/10
Agora só Te falta “O saque de Lampedusa”
É verdade! 😀
Tenho de ler esse 🙂 e “O sangue de Lampedusa” também.
Não é de facto uma leitura simples ou fácil, mas para quem goste de FC é João Barreiros é fundamental
Olá São! 😀
Sem dúvida. Mas sugiro que leias primeiro o “Lisboa no Ano 2000”
Beijinhos
Ois,
Recomendação registada 😀
Abraço
Fixe 😛
Abraço