O texto seguinte pode conter spoilers do livro “República de Ladrões”, terceiro volume da série The Gentleman Bastards
É impossível falar de Locke Lamora sem falar do seu criador, Scott Lynch. Apesar do seu trabalho ser pouco valorizado no nosso país, aqueles que realmente leram e se encantaram pelo mundo de Lamora e companhia tornaram-se fãs acérrimos do autor. Como escritor (ou aspirante a tal), revejo-me imenso na maneira de escrever de Scott e em oito meses li os três livros da sua saga.
Perdoem-me aqueles que detestam Dan Brown e adoram as peripécias de Locke Lamora, mas para mim, Scott Lynch é o Dan Brown do fantástico, essencialmente pela escrita rica, pelos ambientes soturnos e pelo ritmo imparável. República de Ladrões é o terceiro da série The Gentleman Bastards e como é seu apanágio, não faltam truques, roubos e engodos naquela que é a ambiciosa aventura de um jovem ladrão, com tanto de inteligente como de exuberante.

O segundo volume deixou os leitores apreensivos em relação ao futuro do personagem principal. Locke foi envenenado e tudo parece correr mal para o nosso príncipe das tramóias, mas mesmo num cenário tão realista como é este mundo sem nome, algo de mágico há de surgir para salvar a vida ao herói. Começamos este livro com uma sufocante busca por um antídoto que reverta o estado terrível do protagonista, busca essa protagonizada pelo seu inseparável amigo Jean Tannen. Pois bem, depois de tanto desespero, eis que alguém aparece e oferece a cura a Locke, mas… normalmente quando a esmola é muita, o pobre desconfia. E com razão.
Jean e Locke são obrigados a viajar para Kartane, a cidade habitada pelos terríveis magos-servidores. Desta vez, em vez de usarem os outros como peões para as suas tramóias, são eles a ser utilizados para influenciar – e boicotar – o desenlace de umas eleições. O que Locke Lamora não podia adivinhar era que viria a encontrar tanto do seu passado naquela cidade tão estranha e desconhecida.
O que mais me fascina neste mundo fantástico, para além da escrita deliciosa do autor e do humor ácido sempre presente, é a aura renascentista, com toques de steampunk que fazem este mundo poder pertencer a um espaço temporal do passado ou futuro, ou até localizar-se num outro planeta. Recordo que o mundo de Lynch foi concebido por extraterrestres (os Ancestres), que certo dia resolveram abandoná-lo, por alguma razão desconhecida, deixando como herança todo aquele vasto leque de ilhas e cidades costeiras com os seus múltiplos dialetos, para além de construções idílicas de uma matéria robusta chamada vidrantigo.

SINOPSE:
Envenenado e à beira da morte, Locke Lamora segue para o norte com o seu parceiro, Jean Tannen, em busca de refúgio e de um alquimista para curá-lo. Porém, a verdade é que ninguém pode salvá-lo. Com a sorte, o dinheiro e a esperança esgotados, os Cavalheiros Bastardos recebem uma oferta de seus arqui-rivais, os Magos-Servidores. As eleições do conselho dos magos aproximam-se e as fações precisam de alguém para fazer o trabalho sujo, manipulando votos. Se Locke aceitar, o veneno será purgado do seu corpo com o uso de magia – mas o processo será tão excruciante que ele vai desejar morrer. Locke acaba cedendo ao saber que o partido da oposição contará com uma mulher do seu passado: Sabetha Belacoros, a única pessoa capaz de se igualar a ele nas habilidades criminosas e mandar no seu coração. Novamente numa disputa para ver quem é o mais inteligente, Locke precisa decidir-se entre enfrentar Sabetha ou cortejá-la, e a vida dos dois pode depender dessa decisão.
OPINIÃO:
O segundo volume, apesar de cenas incríveis como as do casino e de personagens memoráveis como Requin, Maxilan Stragos e Ezri Delmastro, desiludiu-me em alguns aspetos. A descrição da vida no mar foi morosa e Locke pareceu perder algum brilho. De qualquer forma, continuei atraído pela escrita de Scott Lynch e pela audácia dos seus personagens, e foi com saudades do Locke Lamora do primeiro livro que peguei no terceiro volume. E não é que o reencontrei? Todo o ambiente renascentista regressa neste volume, e somos convidados a entrar no lado mais esotérico deste mundo fictício.
Em Lashane, Locke Lamora e Jean Tannen são intimados pelos maquiavélicos magos-servidores a ter participação nas eleições de Kartane. Por outras palavras, são obrigados a usar de toda a sua ardileza e perspicácia para manobrar as votações entre os dois principais partidos políticos da cidade-estado.

É um livro com grande carga política, que testa aos limites a capacidade de estratégia e improviso de Locke, e também do seu grande rival. Rival este que, como a própria sinopse revela (um grande spoiler, portanto), trata-se de Sabetha, o grande amor da vida de Locke Lamora. Ela é linda, esperta e audaz, e a relação de Locke e Sabetha é de uma verdadeira guerra de amor-ódio até ao fim, mais uma batalha contra os seus próprios sentimentos do que pelas suas cores políticas. Identifiquei-me imenso com a relação dos dois e posso dizer que o modo que Locke tem de encarar a vida ajudou-me também a encarar a minha situação pessoal. Revi-me a 100% no personagem e isso ajuda a que eu ache este livro brilhante. Hilariante e genial.

Não gostei tanto da verdadeira identidade de Locke, nem da decisão final (algo abrupta) dos magos, descaracterizando um pouco a imagem que tinha da população de Kartane. Os interlúdios, principalmente o passado dos Cavalheiros Bastardos em Espara, também me desagradaram; cortando essa parte o livro seria perfeito. Ainda assim, este é dos melhores livros que eu já li na vida. E o epílogo… Ah, o epílogo foi um bónus extra. Lembram-se do temível mago-servidor, o Falcoeiro? Bem, ele está de regresso. Melhor livro do ano.
Avaliação: 9/10
The Gentleman Bastards:
#1 As Mentiras de Locke Lamora (Saída de Emergência)
#2 Mares de Sangue (Arqueiro)
#3 República de Ladrões (Arqueiro)
Ois Nuno,
Obrigado pela partilha do comentário no meu bog, é sempre importante divulgar escritores deste calibre e não sei como deixam de publicar escritores desta qualidade para se publicarem Acacias e Espadas de Shannara, mas enfim se o que é bom não vende….muito…. o fraco ainda deve ser pior
Este é sem duvida um dos meus escritores preferidos na fantasia e felizmente que está a ser publicado em terras de Vera Cruz, o que permite lermos em formato digital.
Ainda tenho este por ler e pelo que percebo está muito bom, muito bem fiquei com muita vontade 😀
Abraço e boas leituras que o 4 chegue depressa 😀
😉 Abraço
Mesmo xD
Olá Nuno!
Mais uma excelente opinião do Nuno!
Este livro é muito melhor do que o segundo que acaba por perder algum do brilho do primeiro, que é simplesmente fantástico, o meu livro favorito.
Gostei muito deste terceiro livro do Locke. Concordo plenamente com a tua opinião, tirando a parte de Espara, de que gostei muito também =)
A parte de Kartane que referes também me deixou um bocadinho naquela, mas acaba por ser interessante. Estava à espera de algo mais fantástico e depois não o é, mas há ainda muito para descobrir e desvendar neste mundo de Scott Lynch e acho que ficou muito por decifrar sobre os magos =D
A identidade do Locke foi algo que me espantou completamente. Não estava à espera e foi um verdadeiro twist! E achei muito interessante e até um bocado assombroso. Estou para ver o que de lá vem. E aquele final…ui!
E Sabetha…uma maravilha de rapariga =P
O Scott é o mestre dos finais de mistério e ansiedade para a próxima leitura =P
Bjs e boas leituras!
Olá Lamora Girl 😛
Obrigado pelo elogio. Fogo é mesmo, Lynch surpreende cada vez mais. Acho que aquela profecia diz muito do que podemos esperar do futuro do Locke, tem pano para mangas. 😀
Adorei a Sabetha, e Kartane, mesmo sem ter tantos magos a viver com o comum dos mortais como eu pensava, seria uma cidade linda se existisse realmente 😛 Scott Lynch alia um mundo genial, personagens geniais e uma escrita genial. O que se pode desejar mais?
Pois, realmente Espara e o teatro não gostei nada 😛
Beijinho e boas leituras.