Algumas eram figuras de mitos bem conhecidos: górgonas, quimeras, dragões, ciclopes e todos os seus arrepiantes congéneres. Outras tinham sido tiradas de mais obscuros e só furtivamente murmurados ciclos de lendas subtérreas: o negro e disforme Tsathoggua, o multitentacular Cthulhu, o trombudo Chaugnar Faugn, e outras indizíveis blasfémias extraídas de livros proibidos como o Necronomicon, o Livro de Eibon ou o Unaussprechlichen Kulten, de Von Junzt.
O texto seguinte pode conter spoilers do conto “The Horror in the Museum”
O conto The Horror in the Museum foi oficialmente publicado por Hazel Heald, em julho de 1933, na Weird Tales. Numa carta endereçada a E. Hoffman Price, H. P. Lovecraft revelou que fora ele o autor do conto, algo facilmente percetível através da leitura do mesmo. Contratado como ghost writer, Lovecraft terá declinado escrever o que lhe fora proposto, acabando por criar ele próprio a narrativa e a grande maioria dos pormenores.
The Horror in the Museum é protagonizado por Stephen Jones, um sujeito experiente em temas ocultistas que decidiu visitar um determinado museu de cera por indicação de amigos. O museu de cera revela-se um verdadeiro cenário de horrores, onde o escultor George Rogers reserva uma ala a esculturas de monstros horripilantes. A curiosidade de Jones leva-o a alimentar uma relação de amizade com Rogers, que lhe vende histórias dignas do mais terrível dos pesadelos.

Conforme a familiaridade entre os dois homens cresce, mais as histórias parecem vívidas e assustadoras. Jones diverte-se, achando a narrativa de Rogers completamente intrigante e – seguramente – ficcional. Por fim, Rogers revela que as obras na sua oficina não são esculturas de cera, mas monstros que ele capturou, embalsamados.
A diversão de Jones transforma-se em cautela, começando a achar que Rogers não é um mero escultor com sentido de humor, mas sim um verdadeiro louco. O artista confessa que, durante uma jornada no Alasca, terá capturado uma divindade de antanho, o terrível Rhan-Tegoth, e que o mantinha preso. À medida que Rogers lhe oferece sacrifícios, como cães e outros animais, mais o poder da criatura aumenta. O objetivo, tornar Rhan-Tegoth tão poderoso que controlaria o mundo e faria de Rogers o supra-sumo da sua religião. Para provar a verdade das suas palavras, mostra uma foto a Jones, que não o convence.
Cada vez mais incisivo na sua defesa, Rogers instiga Jones a passar uma noite fechado no museu. Carregadas de desafio, as palavras do escultor inspiram cuidado ao seu amigo, que ainda assim aceita o repto, certo que mal nenhum lhe acontecerá. As criaturas são monstros de cera e Rogers aceitará ser observado por um psicólogo, caso seja comprovada a sua loucura. Porém, os sussurros e as imagens que a noite trará conduzirão Jones ao mais profundo e pavoroso dos pesadelos.

SINOPSE:
Locked up for the night, a man will discover the difference between waxen grotesqueries and the real thing.
OPINIÃO:
Um dos melhores contos que já tive oportunidade de ler de H. P. Lovecraft, The Horror in the Museum é uma viagem aos mais profundos horrores, transformando uma viagem noturna ao museu numa alucinante vertigem de sons e sensações.
Lovecraft escreveu este conto como ghost writer de Hazel Heald, mas é notório no traço arquitetural da escrita que estamos perante uma história do autor norte-americano. Não só o encontramos na linguagem fluente e estética, como nas imensas referências à sua própria mitologia, criaturas que viriam a tornar-se ícones da cultura pop como o mítico Cthulhu ou o terrível livro Necronomicon.

Sem que tal parecesse provável, The Horror in the Museum tornou-se um dos contos mais relevantes da obra de Lovecraft, e não é difícil perceber porquê. Se, em outros contos do autor, critiquei o mistério demasiado preliminar e a parca apreciação do terror in loco, este conto ofereceu-me tudo o que mais podia desejar. Diálogos interessantes, mistérios surpreendentes, um ambiente palpável e uma conclusão muito boa. Que venham mais contos como este.
Avaliação: 9/10
Viva companheiro,
Ai ando um pouco por fora mas pronto cá vamos voltando como sempre 😀
Bem tenho mesmo que ler este este escritor, não sou adepto de contos (tambem tem a sua arte / beleza eu sei) mas aqui está um escritor que faço mal deixar passar ao lado 🙂
abraço
PS; Jardins da Lua do Erikson, não terminei mas melhor livro do ano a adorar 😉
Viva companheiro. Os contos têm a vantagem de se ler mais depressa xD
Para mim também Jardins foi a melhor até agora.