Às vezes… Quando está a dormir… Fico ali a observá-lo, a ouvi-lo a respirar.
Oooh. Daniel.
O texto seguinte pode conter spoilers do livro “As Benevolentes – Parte 1”, nono volume da série Sandman (Formato BD)
O nono volume de Sandman: Mestre dos Sonhos, publicado pela Levoir em colaboração com o jornal Público, é a primeira metade do arco mais decadente da série, publicado originalmente em 1993. O argumento de Neil Gaiman é agora ilustrado pelas mãos do expressionista Marc Hempel, em colaboração com Dean Ormston, D’Israeli, Glyn Dillon e Charles Vess.
A vida no Mundo do Sonho permanece aparentemente tranquila, embora muitas dúvidas e dilemas pairem nas mentes dos seus habitantes. Mathew procura saber mais sobre corvos, uma vez que anteriormente foi um homem. Encontra Morfeu a criar pesadelos, mais propriamente a refazer Coríntio, o pesadelo que havia sido obrigado a destruir para parar a perturbação causada em Casa de Bonecas.

Cluracan viaja do Reino das Fadas e visita o Reino do Sonho para resgatar a sua irmã Nuala, que trabalha agora para Sonho – um vínculo que resultou da ajuda que o Senhor dos Sonhos prestou a Cluracan numa das histórias contadas em A Estalagem no Fim dos Mundos. Ele pretende levá-la de volta, mas Nuala, embora não pareça nada feliz no Mundo do Sonho, sabe que não poderá simplesmente ir embora. Ainda assim, quando Cluracan solicita a Morfeu que a leve consigo, ele não “parece” criar nenhum obstáculo, embora ofereça um pendente a Nuala e fique implícito que uma história antiga o une à Rainha Titânia do Mundo das Fadas.
As consequências de atos passados perseguem todos os personagens ao longo do capítulo. Morfeu reencontra o seu velho amigo imortal, Hob Gadling, à saída do cemitério, onde finalmente ele mostra os horrores por que um homem imortal é obrigado a passar – nomeadamente a perda de entes queridos.

O pequeno Daniel, o filho de Lyta Hall, é raptado. A polícia investiga o desaparecimento de Daniel, embora todos pareçam mais preocupados com perturbação da mãe. Absorta nos seus sonhos insanos, Lyta sonha que desce à cave e encontra as Fúrias, as três irmãs bruxas que vivem “no lugar inferior que existe em todas as pessoas”. Elas desejam fazer Sonho pagar por este ter morto o seu próprio filho, e convencem Lyta a ajudá-las, levando-a a acreditar que o desaparecimento de Daniel tem dedo do Mestre dos Sonhos. Na verdade, a desgraça do menino Daniel – já várias vezes pressentida por Morfeu – é da responsabilidade de Loki. Apenas com uma pequena participação até então, Loki já havia mostrado ser traiçoeiro, e neste volume consegue mostrar toda a sua “qualidade”: mais do que trapaceiro, Loki revela-se um horrível homicida. Desesperada, Lyta deambula por locais imaginários e reais, tentando voltar a encontrar as Fúrias, que preferem ser chamadas amorosamente de: As Benevolentes.
Procurando respostas, Rose Walker, protagonista do volume Casa de Bonecas viaja ao lar que acolheu a avó Unity, também conhecida como A Bela Adormecida, mas o que encontra tem mais paralelismos com o passado do que poderia suspeitar.

SINOPSE:
Morfeu descobre que os erros que cometeu no passado lhe vão custar muito caro. E as Benevolentes, as três Parcas, que tecem e cortam o fio da vida, estão no Mundo do Sonho para garantir que esse preço é pago. E o preço a pagar é a vida de Morfeu, o que prova que, até para os Eternos, a morte sempre acaba por chegar.
OPINIÃO:
As peças do puzzle finalmente começam a encaixar. Em As Benevolentes – Parte 1, Neil Gaiman coloca quase todas as peças no tabuleiro e as ações passadas começam a fazer sentido. O efeito borboleta está bastante presente neste volume de Sandman: Mestre dos Sonhos, que poderia talvez ser o meu álbum preferido da coleção, se não fosse tão arrastado e abstrato.
Ainda que os apreciadores deste tipo de enredo possam adorar todos os diálogos pejados de significados, sinto que eles apenas fazem dar corpo aos personagens e enriquecem a densidade narrativa. Os diálogos banais – que vimos a descobrir ser essenciais para dar sentido aos remates finais e fazer-nos suspirar “que génio”, acabam por parecer um pouco forçados e, até chegarmos a essas conclusões onde a lâmpada se acende e estremece toda na nossa cabeça, sofremos durante o processo. Pessoalmente, acho sofrível ter de engolir personagens e histórias novas em todos os volumes só para que eles se interliguem uma vez ou outra. Não tiro mérito a Neil Gaiman, mas fica realmente a sensação que a obra no seu todo não teve um esqueleto, e que as ligações estabelecidas são rasgos pontuais, “feitos a martelo”. Muito provavelmente, implicação minha.

As lições de moral, as simbologias, o fazer pensar na brevidade da vida e nas consequências das nossas atitudes, assim como toda a abordagem social, são pontos muito positivos na obra. Aliás, não consigo ver muito mais do que isso de positivo. A forma como Gaiman brinca com as mitologias é algo banal e sem humor, embora sinta que fazer rir seja, em alguns momentos, o propósito do autor. Falando em humor, o cabeça de abóbora Mervyn e o imprevisível Loki acabaram por ser os mais engraçados neste volume. A arte de Hempel foi, em geral, melhor que a dos seus antecessores, mas a nível de expressões faciais deixou muito a desejar.
Avaliação: 6/10
Sandman: Mestre dos Sonhos (Levoir/Público):
#7 Vidas Breves
#8 A Estalagem no Fim do Mundo
#9 As Benevolentes 1
#11 A Vigília
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