Lots. Doors to other worlds. Doors to other possibilities. Want to be a grown-up? There’s one that will turn you into an old person when you walk through it.
O texto seguinte aborda o livro “Welcome To Lovecraft”, primeiro volume da série Locke & Key (Formato BD)
Escrita por nada mais, nada menos do que Joe Hill, filho do mestre de terror Stephen King, Locke & Key é ilustrada por Gabriel Rodriguez e publicada nos states pela IDW Publishing.
Venceu o British Fantasy Award por duas vezes, em 2009 e 2012 na categoria Melhor Comic ou Novela Gráfica e em 2011, o Eisner para Melhor Escritor, entregue a Hill num ano em que a série esteve nomeada em quatro categorias para o prémio maior das BDs.

Mas vamos lá: do que é que trata Locke & Key? Em primeiro lugar é uma BD de horror (eu não prometi ler mais terror este ano?). Depois, tem uma família disfuncional, um serial killer psicopata e ainda uma casa assombrada. Parece-vos bem? Ah, e tem chaves, muitas chaves com poderes mágicos. E ainda uma homenagem ao pai do horror moderno. Não é que a ação passa-se numa localidade chamada Lovecraft?
Locke & Key é uma daquelas comics de que já ouvi falar tanto bem que parecia mal não a ler. Mas faltava qualquer coisa para lhe saltar em cima. Talvez por não estar ainda traduzida em português, talvez por a premissa me parecer algo rebuscada, talvez por preguiça mesmo. Mas, vamos lá, acabei por ler o primeiro volume, Welcome To Lovecraft, e gostei.

Welcome to Lovecraft dá o “pontapé de saída” no dia em que o professor Rendell Locke, disposto a disciplinar os filhos e a envolvê-los em atividades campestres, é retido na sua própria casa por um grupo de alunos problemáticos que têm em mente pregar um susto ao professor e à sua família. O caos é despoletado quando um desses alunos, o sociopata Sam Lesser, mata Rendell e a família deste envolve-se na contenda. Há mortos e feridos e Sam é preso.
“A pouco e pouco, também Sam veio a roubar a cena, tornando-se um dos personagens mais bem construídos do álbum.”
No rescaldo da tragédia, a família do professor é obrigada a mudar-se para a terra natal de Rendell: Lovecraft, em Massachusetts, Nova Inglaterra. Vigiada até ali pelos irmãos Duncan, a mansão de família dos Locke é denominada Keyhouse… por alguma razão. Trata-se de uma mansão vitoriana repleta de segredos, para onde a esposa e filhos do falecido vão viver.

A mãe, Nina, torna-se dependente de álcool e são vários os episódios de perturbação emocional de que é protagonista. Mas enquanto o filho mais velho, Tyler, se envolve em atividades que apelam à sua brutidade e a jovem Kinsey tenta ser aceite pela sociedade, o pequeno Bode, negligenciado por todos, acaba por revelar-se o mais estável, explorando a imensa mansão e descobrindo os seus segredos, alguns deles bem assustadores.
É aqui que Locke & Key ganha forma e magia, não só na questão tradicional da “casa assombrada”, mas nos upgrades que Hill tão bem incutiu na sua obra. Vários personagens parecem “cinzentos”, não se compreendendo na perfeição o seu papel a desempenhar. A pouco e pouco, os dons que as chaves despoletam abrem caminho para uma trama maior, nomeadamente a capacidade de as pessoas se desvincularem do seu corpo físico e poderem vaguear na mansão como fantasmas.

Também a questão de os personagens se esquecerem daqueles “dons” à medida que envelhecem deverá ser mais explorada nos próximos volumes. O passado dos Locke permanece envolto em mistério, mas esse esquecimento parece estar diretamente relacionado à completa descrença dos adultos em relação às afirmações do pequeno Bode. A cena de pesca final pareceu-me uma boa sugestão do que pode estar para vir.
“Senti falta de uma ilustração mais plana e aberta, com tons mais escuros e expressões menos caricaturais.“
A pouco e pouco, também Sam veio a roubar a cena, tornando-se um dos personagens mais bem construídos do álbum. O trajeto dele pode até ser previsível e tudo o mais, mas acrescentou à narrativa um sentimento de adrenalina e de horror palpável, a somar ao que o ambiente soturno e fantasmagórico da mansão já vinham oferecendo.

Mas nem tudo é ótimo neste Locke & Key. Se o argumento me cativou e conquistou, a arte ficou a perder em comparação. Com uma boa disposição de pranchas, vinhetas e balões, assim como uma atenção vívida aos pormenores, nomeadamente nos ornamentos da mansão, quadros e chaves, acabei por sentir que o desenho não casou bem com o argumento. Senti falta de uma ilustração mais plana e aberta, com tons mais escuros e expressões menos caricaturais.
Ainda assim, Locke & Key é mais uma série para continuar a seguir. A panóplia de ingredientes que mesclam o terror psicológico ao fantástico criam um clima de bizarrice que brinca com os próprios clichés do género e apresenta uma aura infantil virada ao avesso, disruptiva, plena de violência e de carga dramática.
Avaliação: 7/10
Locke & Key (IDW Publishing):
#1 Welcome To Lovecraft
#2 Head Games
#5 Clockworks
6 comentários em “Estive a Ler: Welcome To Lovecraft, Locke & Key #1”