Flor bonita – disse o kandra. – Posso ficar com o seu esqueleto quando você morrer?
O TEXTO SEGUINTE ABORDA O LIVRO “OS BRACELETES DA PERDIÇÃO”, TERCEIRO VOLUME DA SÉRIE MISTBORN 2.ª ERA
Publicado em janeiro de 2016, The Bands of Mourning é o terceiro livro da chamada Segunda Era Mistborn, também conhecida informalmente como a saga Wax & Wayne. Ao contrário da primeira série, porém, não se trata do último livro da saga, faltando ainda um volume, The Lost Metal, previsto para 2019. Após a leitura deste livro, é recomendada a pequena história Mistborn: Secret History, que explica mais detalhadamente o que foi aquele epílogo.
O livro é mais uma das criações inventivas do autor norte-americano Brandon Sanderson. Li a versão brasileira da Leya, com um total de 384 páginas e tradução de Alexandre Martins, incluída no box lançado na ComicCon de São Paulo do ano passado, que incluiu os três livros da série já publicados internacionalmente pela Tor. O título em português ficou Os Braceletes da Perdição, nome bem familiar para quem acompanhou a primeira trilogia, já publicada em Portugal.

Alguém falou em organização? Steris Harms chamada à caixa.
Antes de avançar no dissecar deste enredo e em explicar mais detalhadamente o que gostei mais ou menos neste livro, quero deixar claro uma coisa: o segundo volume, As Sombras de Si Mesmo, é o meu preferido até agora de Mistborn, o que não significa que este terceiro volume tenha sido muito inferior. A respeito da Cosmere, o universo compartilhado, o mundo foi aqui muito mais explorado, e mesmo as personagens principais foram bem mais desenvolvidas.
A questão é que Brandon Sanderson habituou-nos a um ambiente meio faroeste, nos primórdios da Indústria, com toda uma parafernália de coches, salões de festa e vestidos de época convencionais, para de repente nos fazer avançar a 300 km / hora para um outro tipo de tecnologias. Nada contra, mas meio que a história perdeu a mística que vinha a criar. Se já no segundo volume havia uma certa estranheza com os primeiros carros a motor, o que dizer agora de
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aeronaves movidas a alomância?
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E não é só isso. As Sombras de Si Mesmo trouxe uma investigação incrível no interior de Elendel, com perseguições e lutas alomânticas extraordinárias, com estratégia policial e uma história à Sherlock Holmes envolvendo kandras – e quem leu a Primeira Era sabe bem das peculiaridades destes “bichinhos”. A trama foi toda muito bem amarrada e terminamos o livro com a sensação de desfrute, alívio e realização.
“A segunda metade do livro é bem mais corrida, mas penso que o livro todo teve um ritmo coerente e bem equilibrado.”
Os Braceletes da Perdição é um livro bem mais pretensioso. E enrola-te mais o cérebro – o que não é mau. Achei a primeira metade do livro algo parada, com dificuldade em desenvolver-se. Ainda assim, teve algumas das minhas passagens preferidas, como um ataque a um comboio e uma incursão noturna a um cemitério, por exemplo, bem como a estranheza do nosso protagonista ao encontrar um telefone, mal sabia ele o que viria a encontrar de seguida. Houve ainda uma espécie de casamento, que – tipo – meteu água.

A segunda metade do livro é bem mais corrida, mas penso que o livro todo teve um ritmo coerente e bem equilibrado. E acima de tudo, soube desenvolver bem as personagens. Confesso que na minha cabeça tenho ainda dificuldade em distinguir Steris de Marasi. Tudo bem que têm o tal parentesco, mas apesar de serem bem diferentes em personalidade, olho para elas com traços físicos semelhantes e mesmo as falas delas parecem-me iguais.
Wax e Wayne voltaram a ter o destaque da série, ou não fossem eles – será? – os protagonistas. Apesar disso, o painel de personagens femininas é bem mais extenso e Marasi reclama cada vez mais para si o papel que Vin desempenhou na Primeira Era. Também Steris, MeLaan e Telsin revelaram-se personagens incríveis. Se as piadas de Wayne já não me pareceram tão frescas neste volume, o mesmo não posso dizer de MeLaan. Posso ter uma kandra daquelas? Tipo… de estimação?

Mistborn deu um passo em frente na evolução. Descobrimos mais sobre outros povos, sobre Harmonia, sobre o mundo em si. Afinal, Elendel pode estar bem menos evoluída do que o resto de Scadrial. Wax, Wayne, Marasi e companhia saíram de Elendel, depois do kandra ReLuur ter descoberto a localização dos famosos Braceletes da Perdição, as incríveis mentes de metal do Senhor Soberano, e lhe ter sido removida uma estaca, para o deixar sem memória.
“A trama [do volume anterior] foi toda muito bem amarrada e terminamos o livro com a sensação de desfrute, alívio e realização.”
Ao mesmo tempo que eles acreditam que o Grupo, comandado pelo enigmático Senhor Elegante, está envolvido no assunto, Wax descobre que ele mantém a sua irmã Telsin, que não vê desde criança, como prisioneira. E é para a salvar que ele empreende uma jornada heróica que inclui mil e uma aventuras e mil e dois saltos alomânticos. Passamos de um clássico de faroeste a uma aventura de ficção científica num piscar de olhos, para assistirmos a uma fita de Indiana Jones no último quarto do livro.
Todas estas mudanças fazem-me gostar mais do segundo volume, mas a verdade é que não desgostei da forma como me foram apresentadas tanto as tecnologias como as mudanças de cenários de Os Braceletes da Perdição. Mistborn está cada vez mais fluída e surpreendente, e apesar de não ter apreciado uma morte e um encontro com Deus que não deu em nada, acho que esse lado supra-fantasioso do Sanderson vai estar sempre nas suas obras, gostemos ou não.

Porém, espero que ele volte a ter o sangue-frio da Primeira Era na hora de matar de forma definitiva as suas personagens. Até aqui ainda não aconteceu, mas aguardo que o último volume venha a fechar convenientemente todas as tramas e até opte por uma maior crueldade na hora de encerrar portas. Porém, ele parece estar mais interessado em ressuscitar um e outro e mais outro, do que em matar personagens.
Quanto a este livrinho, os momentos mais Woow! acabam por ser a aparição de Hoid (que entra em quase todos os livros de Brandon Sanderson) e a moeda que ele dá a Wax, em que uma das faces revela um rosto com um olho coberto por uma estaca, bem como aquele epílogo de cortar a respiração. Que venha The Lost Metal! Até lá, talvez leia Secret History para compreender o que aquele “nosso velho amigo que quem leu sabe e mais não posso dizer” estava ali a fazer. E, claro, que venham mais cavalgadas e viagens de comboio no próximo volume.
Avaliação: 7/10
Cosmere:
The Stormlight Archive (Tor Books):
#2.5 Edgedancer
#3 Oathbringer
Mistborn Era 1 (Saída de Emergência):
Mistborn Era 2 (Leya):
#3 Os Braceletes da Perdição
Mistborn (Noveletas)
Warbreaker:
#1 Warbreaker
White Sand (Dynamite):
Elantris (Leya):
#1 Elantris
Mulheres Perigosas (Saída de Emergência)
#* Sombras Para Silêncio nas Florestas do Inferno
(*) conto incluído em antologia
16 comentários em “Estive a Ler: Os Braceletes da Perdição, Mistborn 2.ª Era #3”