Ainda me lembro daquele amanhecer em que o meu pai me levou pela primeira vez a visitar o Cemitério dos Livros Esquecidos.
O TEXTO SEGUINTE ABORDA O LIVRO A SOMBRA DO VENTO
Quem não gostaria de encontrar um cemitério destes? Carlos Ruiz Zafón nasceu em Barcelona em 1964. Iniciou a carreira literária em 93 com El Príncipe de la Niebla, que venceu o Prémio Edebé, a que se seguem El Palacio de la Medianoche, Las Luces de Septiembre, reunidos no volume La Trilogía de la Niebla, e Marina. Em 2001 publicou este A Sombra do Vento, que rapidamente se transformou num fenómeno literário internacional.
A sua obra foram traduzida em mais de quarenta línguas, coleccionando prémios e milhões de leitores nos cinco continentes. Atualmente, Zafón reside em Los Angeles, onde trabalha nos seus romances, e colabora habitualmente com La Vanguardia e El País. A minha tradução de A Sombra do Vento pertence à edição de 2004 da D. Quixote, com tradução de J. Teixeira de Aguilar e um total de 400 páginas.

Zafón estava na minha black list desde que em 2014 me desiludi imenso com o primeiro livro que dele li. Cheguei ao seu romance mais famoso com imensos anticorpos, anticorpos esses que se dissiparam nas primeiras páginas deste extraordinário romance. A Sombra do Vento é um livro muito mais maduro e completo do que O Palácio da Meia-Noite, o que revela também um maior amadurecimento por parte do escritor.
“Uma trágica história de amor que atravessa o tempo.“
A Sombra do Vento é um thriller histórico cheio de suspense e muitíssimo bem escrito, retratando de forma consistente e mágica a Barcelona dos meados do séc. XX. A vivacidade mística das cidades é uma das características mais marcantes deste autor, mas desta vez Zafón não misturou elementos fantásticos de forma demasiado explícita e descarada na sua narrativa, o que mais me desagradara no autor espanhol.

O livro começa em 1945, quando o pequeno Daniel Sempere é levado pelo pai a um lugar mítico da Barcelona de então: O Cemitério dos Livros Esquecidos. Ali, é-lhe dada a possibilidade de levar um livro à sua escolha. Entontecido pela magnificência e dimensão do lugar, o menino de dez anos escolhe um livro chamado A Sombra do Vento de um escritor de que nunca ouvira falar: Julián Carax. Apaixonado pela história sombria e pelo mistério em volta do escritor, uma vez que poucos foram os que ouviram falar dele, Daniel dedica-se a destrinçar a vida do autor.
Rapidamente o interesse de Gustavo Barceló o leva a frequentar a sua casa, onde Daniel se perde de amores pela sua filha Clara, um rapariga cega dez anos mais velha que o menino. Iludido pelas emoções, Daniel torna-se presença assídua na casa, lendo A Sombra do Vento à jovem cega, passando depois para outros livros. A relação com os Barceló termina abruptamente, quando percebe que as intenções de Clara para consigo não são as melhores.

Os encontros com uma estranha figura de rosto destruído que tenta incendiar o trabalho de Caráx adensa a sua curiosidade em torno do autor. Daniel cresce a trabalhar na livraria do pai, a única pessoa que tem na vida desde a morte da mãe. Ganha afinidade e apreço por um mendigo chamado Fermín Romero de Torres, um espertalhão de boca suja que rapidamente se torna empregado da loja e o seu melhor amigo.
“A Sombra do Vento é um thriller histórico cheio de suspense e muitíssimo bem escrito, retratando de forma consistente e mágica a Barcelona dos meados do séc. XX.”
Mas o fascínio sobre Julián Carax não esmorece e rapidamente descobre pormenores escabrosos sobre a vida e a morte do escritor. Ao mesmo tempo que conhece a misteriosa Nuria Montfort e se apaixona por Beatriz Aguilar, irmã do seu amigo Tomás, torna-se um alvo a abater por parte de um alto graduado da polícia, o misterioso e intragável Francisco Javier Fumero, figura também ligada ao passado do lendário escritor.

A Sombra do Vento é um mistério literário que alude ao amor e à magia pelos livros. Qualquer um que adore thrillers, livros e viagens não tem como não amar este livro. Por vezes perde-se em demasiados pormenores sobre o passado das personagens, com páginas e páginas de pormenores que pessoalmente não me agradaram, mas isso em nada melindra a qualidade do livro.
É um suspense de tirar o fôlego, que só nos deixa respirar fundo quando chegamos à última página. Pessoalmente, adorei certos pormenores, como o “anúncio da morte” do protagonista ou a chegada do mesmo a algumas conclusões sem que o leitor fosse avisado disso. Mas mais do que tudo, o convite do autor para conhecer a cidade através das suas páginas deixa claro que A Sombra do Vento de Carlos Ruiz Zafón não ficará atrás do fictício A Sombra do Vento de Julián Carax. Uma trágica história de amor que atravessa o tempo.
Avaliação: 8/10
Imagem de capa: https://www.barcelonacheckin.com/en/r/barcelona_tourism_guide/articles/carlos-ruiz-zafon.php (Reprodução)
Viva,
Já li à imenso tempo mas tambem foi uma leitura que me agradou imenso 🙂
Abraço
Boas.
Ainda bem. 🙂
Grande abraço e boas leituras.