Apresentava um aspeto mais velho do que me lembrava e ocorreu-me naquele momento, observando os olhos cinzentos, que Cnut Ranulfson teria de agir com celeridade, se pretendia realizar os seus sonhos de vida.
O TEXTO SEGUINTE ABORDA O LIVRO “O LORDE PAGÃO”, SÉTIMO VOLUME DA SAGA AS CRÓNICAS SAXÓNICAS
The Pagan Lord foi publicado em 2013 por Bernard Cornwell, sendo o sétimo volume das suas Crónicas Saxónicas. Cornwell nasceu em Londres e cresceu no Essex, trabalhou para a BBC antes de conhecer a sua futura esposa, tendo-se mudado então para os E.U.A. onde iniciou a sua carreira de escritor. É também o autor de vários séries históricas como The Warlord Chronicles, Starbuck Chronicles e outros thrillers e romances de grande reputação.
O seu primeiro romance, Sharpe’s Eagle, sobre um soldado nas Guerras Napoleónicas, tornou-se um sucesso e originou uma série com mais de vinte livros, bem como uma adaptação televisiva. As Crónicas Saxónicas são outro dos seus sucessos adaptados à TV, numa série protagonizada por Alexander Dreymon. O sétimo volume, traduzido pela Saída de Emergência como O Lorde Pagão, tem tradução de Neuza Faustino e um total de 320 páginas.

A prosa de Cornwell continua excelente. Apesar de muito do que ali é descrito ser fictício, uma vez que se sabe que a Batalha de Teotanheale aconteceu ali em 910 d.C., mas que não foram aqueles os protagonistas, Bernard Cornwell faz-nos acreditar em tudo aquilo. Sentimos o fedor da carnificina, observamos o castanho dos rios, nada ali é bonito de se ver.
“Na casa dos cinquenta anos, Uthred continua a revelar-se um homem que se guia pelos instintos e a não compreender por inteiro as questões da religião.”
Advirto-vos para pensarem bem antes de lerem a nota história com que o livro termina, porque ela tem um spoiler gigantesco sobre o final da saga. É uma série e um livro em particular que eu recomendo vivamente. De uma forma fictícia, Cornwell mostra-nos um mundo que realmente existiu, com todos os seus pormenores mais sórdidos.

ATENÇÃO, ATENÇÃO, O LIVRO É MARAVILHOSO, MAS O TEXTO SEGUINTE PODE TER SPOILERS PARA QUEM NÃO LEU O LIVRO A MORTE DOS REIS, O SEXTO VOLUME DA SAGA.
No início do século X, a Bretanha está em tumulto. Alfredo está morto e só a custo o seu sonho de uma terra unificada pelos saxões (a Inglaterra) não cairá, uma vez que o novo rei, o seu filho Eduardo, é conhecido por seguir bastante os conselhos dos padres e preferir a sua precaução. Em tempos de guerra, porém, a cautela pode ser tanto uma aliada, como uma inimiga.
Entre os lordes dinamarqueses mais influentes à época contam-se nomes como Cnut Ranulfson (também conhecido como Cnut Espada Longa devido à sua temível Ódio de Gelo), Sigurd Thorsen e o sempre volúvel Haesten. Mas também Uthred de Bebbanburg, embora este se manifeste do lado da Cristandade. Uthred é contactado por Cnut depois da sua mulher e filhos terem sido sequestrados, com a bandeira de Uthred a revelar o nome do raptor. Mas Uthred nada tem a ver com o caso, e facilmente o prova ao dinamarquês.

Depois da morte de um abade, Uhtred vê-se uma vez mais atacado pela Igreja e pelos seus seguidores. Ele era um dos últimos senhores pagãos entre os saxões, com uma esposa, Sigunn, embora todos soubessem que se mantinha amante de Æthelflæd, filha de Alfredo e esposa de Ælthered, o governante da Mércia. Apesar do amor que os une, ambos parecem contentar-se com uma vida de clandestinidade, a que Uthred pretende pôr fim quando recuperar Bebbanburg.
É quando a Igreja se vira contra si e se vê na iminência de perder os seus títulos, que Uthred se decide a reunir os seus homens e a lutar por recuperar a terra que o seu tio Ælfric lhe extorquiu. Entre eles estão Osferth, o filho bastardo de Alfredo, e o seu próprio filho Uthred, que na verdade não é o legítimo nem o mais velho, uma vez que o seu primogénito escolheu ser padre, para seu desgosto.

A fórmula de O Lorde Pagão não difere muito da utilizada por Cornwell nos livros anteriores, mas este acaba por ser o meu preferido da saga até agora, e dificilmente não poderei afirmar que se trata efectivamente do melhor. Apesar de mais afastado dos saxões, continua a mostrar aquelas picardias bem-humoradas entre Uthred e os padres, mas tem muitos outros factores de interesse, que vos apresentarei já de seguida.
Desde logo, Bebbanburg. Depois de tantos livros, Uthred ganha finalmente a coragem e o ímpeto de tentar recuperar a terra que lhe foi legada e roubada pelo tio, e o seu empreendimento revela-se tão pulsante como parco em lógica. Independentemente do resultado, somos apresentados à Bebbanburg actual, às suas gentes e vemos ali uma página da vida de Uthred a ser virada.

Também adorei esta versão mais velha e experiente de Uthred. Está cada vez mais apurado como guerreiro, a sua reputação atingiu uma dimensão assustadora, com os dois filhos a chegarem à idade adulta, revelando estilos de vida bem diferentes. Na casa dos cinquenta anos, Uthred continua a revelar-se um homem que se guia pelos instintos e a não compreender por inteiro as questões da religião.
Mas a grande mais-valia de O Lorde Pagão são mesmo as suas estratégias. A inteligência de Uthred é de salutar, a forma como ele põe e dispõe e consegue engendrar estratagemas para que os outros façam o que ele quer ou acreditem no que ele quer que acreditem é genial. Livro após livro, ele revela-se cada vez mais como uma personagem incrível e difícil de esquecer.
Este livro foi cedido em parceria com a editora Saída de Emergência.
Avaliação: 9/10
As Crónicas Saxónicas (Saída de Emergência):
#7 O Lorde Pagão
Viva,
Bolas já terminaste e bem claro, eu é que estou a ler de forma lenta, mas tal como tu a adorar, falta-me a parte final e não tarda está terminado, vamos ver como fica o livro encerrado.
Há aqui a profecia da morte de 7 reis, vamos ver como vai acontecer 😀
Abraço e boas leituras
Fiacha
Sim. Li-o em 5 dias 😀
É mesmo muito bom.
A profecia já veio do livro anterior, acho que ainda demorará um pouco a percebermos quem são.
Grande abraço.
Sim sim tinha percebido isso e a concretizar-se será mais para a frente, embora o nosso heroi começe a ficar com uns anitos 😀
Boas férias
Fiacha
Aim sim percebi que vinha do livro anterior e que não se concretize já. embora o nosso heroi comece a ficar com uns aninhos
Boas férias 😀
Fiacha