A história é minha, e, portanto, posso contá-la da forma que quiser.
O TEXTO SEGUINTE ABORDA O LIVRO UMA COISA ABSOLUTAMENTE INCRÍVEL
Mais famoso por ser irmão do célebre escritor John Green, Hank Green surpreendeu o mundo literário com este seu romance de estreia, An Absolutely Remarkable Thing. Em 2007, Hank começou a criar vídeos para o Youtube com o seu irmão, uma atividade que começaram por não levar a sério mas que se tornou maior do que alguma vez podiam esperar. Atualmente, é CEO da Complexly, uma produtora que cria conteúdos educacionais como os canais Crash Course e SciShow.
É também cofundador de várias pequenas organizações como a DFTBA.com, que ajuda artistas e criadores de conteúdo a venderem os seus trabalhos na Internet, e a VidCon, a maior conferência de vloggers do mundo. Hank e John Green também criaram o Project for Awesome, que no ano passado angariou mais de dois milhões de dólares para causas solidárias como a Save the Children e a Partners in Health. An Absolutely Remarkable Thing foi traduzido em Portugal pela TopSeller como Uma Coisa Absolutamente Incrível, com um total de 320 páginas.

Eu tinha as expectativas bem a zero em relação a esta coisa supostamente absolutamente incrível, e com uma certeza quase absoluta de que o iria odiar, pelas reminiscências que ainda trago do hype que este livro gerou e que se repercutiu em certas comunidades aquando do seu lançamento. Mas a verdade é que eu não só gostei como fiquei agradavelmente surpreendido com este livro de Hank Green.
“O vídeo é publicado no YouTube e, da noite para o dia, April torna-se famosa por ter sido a primeira no mundo a registar a existência da estátua.”
Pode-se dizer que é um livro de ficção científica, afinal tem termos científicos, possível comunicação com extraterrestres e muita coisinha pouco credível ali pelo meio, mas definitivamente não são esses os pontos altos deste Uma Coisa Absolutamente Incrível. Espero com esta opinião conseguir fazer-vos compreender quais são sem cair em revelações escusadas.

O livro apresenta uma narrativa algo juvenil mas ao mesmo tempo bem adulta, com protagonistas jovens algo imprevisíveis, mas a narração na primeira pessoa e a escrita fluída e bem intimista do autor fazem-te identificar de imediato com as personagens, por mais rasas e parvinhas que elas te pareçam numa primeira análise. À medida que as ideias completamente fora da caixa de Hank Green te são apresentadas, com referências a Queen e a David Bowie pelo meio, vais entendendo a mensagem.
Porque se de um lado temos uma protagonista deliciosa, bem cheia de nuances e de defeitos, como eu gosto, do outro temos mensagens importantíssimas a refletir, e este livro fez-me refletir imenso. Seria difícil de engolir uma história sobre uma série de robots gigantes que aparecem espalhados em vários pontos do globo sem uma explicação convincente para isso, se o livro se focasse nisso. Não é esse o ponto.

Uma Coisa Absolutamente Incrível fala sobre o lado negro da fama, sobre os amores platónicos dos fãs, sobre fake news, política, violência, Internet, a cultura dos likes e a importância das redes sociais, os ódios inflamados que elas despertam, e fala também sobre amizade, espírito de grupo, sobre as pessoas e as atitudes que realmente importam. E fala também sobre relacionamentos, que foi uma parte da viagem que eu adorei.
Sempre com um humor acutilante, viagens pela Wikipedia, Twitter, Instagram e pelo mundo da música, ou não fossem os protagonistas pessoas de carne e osso do nosso mundo, Hank Green obriga-nos a refletir sobre os dias de hoje, sobre os mais variados problemas do quotidiano, da sociedade em geral e até mesmo das posições políticas que os países vêm tomando.

A trama apresenta-nos April May, uma rapariga completamente comum que tropeça numa escultura gigante em Nova Iorque, uma espécie de robot com três metros de altura e aspeto de samurai. Perante a descoberta, April faz a primeira coisa de que se lembra: filma a bizarra estátua. O vídeo é publicado no YouTube e, da noite para o dia, April torna-se famosa por ter sido a primeira no mundo a registar a existência da estátua.
Só que aquela é apenas uma de um conjunto de mais de 60 estátuas, espalhadas por várias cidades do mundo. Pouco habituada ao estrelato e às consequências da fama viral, April torna-se internacionalmente famosa e fica desde logo associada aos robots. Um movimento emergente desperta. As pessoas querem saber: O que são estes robots e porque existem? Quem os terá criado? E mais importante ainda: serão perigosos?

April começa a sua investigação e, reunindo um grupo improvável de pessoas, tenta perceber a origem destes robots e o seu sentido neste mundo. São eles o seu melhor amigo Andy, a sua namorada Maya, a jovem e “fofinha” Miranda, expert em ciências e, a partir de determinado momento, o seu assessor Robin. Divertida e muito imprevisível, dona de uma personalidade riquíssima, esta jovem igual a tantas outras, youtuber e bissexual, torna-se uma celebridade e é obrigada a lidar com isso.
É um livro meio doido e que tem muito mérito em prender o leitor da primeira à última página, um prato cheio de emoções, e apesar do final deixar em aberto uma continuação, porque fica muita coisa por responder, a mim pessoalmente deixou-me plenamente satisfeito tanto por aquilo que conheci desta rapariga que narra o livro como pelas questões sensíveis que Hank Green tão bem retratou.
Avaliação: 8/10
2 comentários em “Estive a Ler: Uma Coisa Absolutamente Incrível”