Também ele conhecia o segredo pelo qual a Senhora obliteraria nações.
O TEXTO SEGUINTE ABORDA O LIVRO “AS SOMBRAS ETERNAS”, SEGUNDO VOLUME DA SÉRIE AS CRÓNICAS DA COMPANHIA NEGRA
Mais um livrinho TOP! Glen Cook nasceu em 1944 e cresceu na Califórnia. Serviu na Marinha e licenciou-se em Psicologia na Universidade do Missouri. Desde 1971 que publicou vários romances de fantasia e de ficção científica. Depois de trabalhar durante muitos anos na General Motors, tornou-se escritor a tempo inteiro assim que se reformou. Vive com a sua mulher Carol em St. Louis, Missouri.
A Companhia Negra é o primeiro volume da série As Crónicas da Companhia Negra do autor americano, também considerado o pai do grimdark ou dark fantasy, e um dos nomes mais citados no cada vez mais amplo catálogo de autores que se afastam do maniqueísmo tradicional do género fantástico. As Sombras Eternas é a tradução portuguesa de Shadows Linger de 84, segundo volume da saga, com um total de 352 páginas e tradução de Renato Carreira.

As Sombras Eternas é uma prova física da capacidade incrível de Glen Cook para explorar cenários fictícios e desenvolver interações entre personagens com uma destreza e credibilidade relevantes. Se no primeiro volume de As Crónicas da Companhia Negra somos apresentados a uma milícia pouco ortodoxa que servia de instrumento militar a uma dark lady, a Senhora, neste segundo volume vemos as personagens a serem exploradas com mais calma.
“De uma linguagem simples e forte, à forma como as magias são tratadas, sem grande conversa e com grande ação, As Crónicas da Companhia Negra está nas minhas recomendações.“
Não há aqui os cenários de guerra que assistimos no primeiro livro. As Sombras Eternas mostra-nos as mesmas personagens (e algumas novas) grande parte do tempo no mesmo lugar, transformando-se então o lugar no “personagem” principal do livro, independentemente de quem seja o narrador. Os negócios ilícitos, os agiotas, a vida de taberna e as trapaças tornam-se os ingredientes principais, deixando de lado os cenários bélicos e os grandes confrontos… até determinado momento.

Não posso dizer que a saga perde com isso. Glen Cook é um autor incrível, os seus capítulos são deliciosos e ver a quantidade de coisas em que Steven Erikson se inspirou nele – Erikson é um dos meus autores preferidos – é maravilhoso. Adoro fantasia militar, grimdark e conversas de caserna, e apesar de haver menos confrontos, este segundo livro não é em nada inferior ao primeiro.
Há uma linguagem muito direta, não necessariamente suja, mas somos atirados sem grandes preâmbulos para os cenários e devemos identificar as personagens, todas elas cruéis e sem escrúpulos, de acordo com o que nos é apresentado. E há cruzamentos e reviravoltas geniais, com um ritmo quase sempre heterogéneo mas que não deixa de ser alto e coeso ao mesmo tempo. Há personagens sobre as quais gostaríamos de saber mais em determinado momento e o autor concede-nos isso.

O livro é passado vários anos após o final do primeiro volume. Especula-se que o Corvo e Amorosa tenham desertado da Companhia Negra para se juntar aos rebeldes devotos à Rosa Branca, mas Físico, o narrador da história, não o vê há anos e mantém viva a curiosidade para com o seu destino. Ele acaba por seguir com parte da companhia até Zimbro, local onde se passa a maioria da ação, ao lado de personagens riquíssimas como o Duende, Zarolho e Silencioso, os magos de plantão, Elmo ou o informador chamado Novilho.
E é em Zimbro que está o segundo narrador do livro, cujo ponto de vista se intercala com Físico e que é, certamente, uma mais-valia para a saga. Marron Cabana é um taberneiro, dono do Lírio de Ferro, que numa primeira instância se encontra precisamente com o misterioso Corvo, que o leva a conhecer o mistério do Castelo Negro, onde quem se aproxima desaparece misteriosamente e cujos ocupantes pagam bem a troco de corpos… mortos ou vivos.

Assistimos à evolução gradual de Cabana, de um cobarde preocupado com a saúde da sua mãe até se tornar num verdadeiro trapaceiro sem escrúpulos. Outras personagens interessantes se espalham pelas ruas do bairro Coturno, como o jovem Asa, a interesseira Sue, os contrabandistas Krage e Gilbert ou a surpreendente Lisa. Mas tudo se torna caótico quando a Companhia Negra é encarregada de destruir o tal Castelo e os destinos de Físico e Cabana se tornam irremediavelmente próximos.
Zimbro é uma cidade suja e cheia de gente suja, e o livro fala quase exclusivamente sobre ela. É muito interessante de conhecer aquela gente e todos os interesses que a rodeiam, ao mesmo tempo que Físico, o narrador da Companhia Negra, se questiona uma vez e outra sobre em que lado da barricada ele se encontra, e se ajudar a Senhora é mesmo a melhor opção para si e para os seus companheiros, ao mesmo tempo que os seus sentimentos para com Corvo continuam difusos.

Depois de ter lido o primeiro volume em português do Brasil, fiquei bastante contente por a Saída de Emergência ter apostado nesta saga em Portugal e acabei por esperar por ler este segundo livro na minha língua natal. Não me arrependi, até porque os nomes traduzidos em pt-pt fazem muito mais sentido e me parecem menos ridículos, agradáveis até. Não vejo a hora de ter o terceiro nas minhas mãos.
De forma geral, apreciei mais este segundo livro que o primeiro, apesar de não lhe dar uma pontuação superior, um pouco por demorar mais a mostrar a sua espectacularidade, um pouco por não ter o factor surpresa, mas lá no fundo confesso que achei este As Sombras Eternas superior. Ou talvez tenha sido a minha experiência de leitura melhor. De uma linguagem simples e forte, à forma como as magias são tratadas, sem grande conversa e com grande ação, As Crónicas da Companhia Negra está nas minhas recomendações.
Este livro foi cedido em parceria com a editora Saída de Emergência.
Avaliação: 8/10
As Crónicas da Companhia Negra (Saída de Emergência):
#2 As Sombras Eternas
Viva,
Não li bem o comentario pois é a minha leitura atual, espero vir a gostar mais do que do primeiro, vamos ver.
Grande abraço e tudo a correr bem
Fiacha
Boas!
Espero que gostes. Grande abraço!