Amanhã, o meu primo Woody irá para a prisão. É lá que vai passar os próximos cinco anos da sua vida.
O TEXTO SEGUINTE ABORDA O LIVRO O LIVRO DOS BALTIMORE
Le Livre des Baltimore é o terceiro romance do autor suíço Joël Dicker, publicado em 2015 pela Éditions de Fallois. Traduzido em português como O Livro dos Baltimore, o romance prossegue a senda de sucesso do autor, após a publicação de Os Últimos Dias dos Nossos Pais e A Verdade Sobre o Caso Harry Quebert. Dicker fez a sua escolaridade em Genebra, tendo-se inscrito aos 19 anos no Cours Florent em Paris. Ao fim de um ano regressou à Suíça para frequentar a Faculdade de Direito, onde tirou o Mestrado em Direito na Universidade de Genebra em 2010.
Em 2010, Dicker venceu o Prémio dos Escritores de Genebra, uma distinção prestigiante para manuscritos não publicados. Foi quando o editor parisiense Bernard de Fallois adquiriu a submissão vencedora de Dicker, Les Derniers Jours de Nos Pères, e a publicou no início de 2012. Seis meses mais tarde, em Setembro de 2012, Fallois publicou La Vérité sur l’Affaire Harry Quebert, romance com que Dicker tem coleccionado prémios. O Livro dos Baltimore foi publicado em Portugal pela Alfaguara, com tradução de Rita Carvalho e Guerra e um total de 552 páginas.
Parti para este romance com as expectativas em alta, ou não tivesse ficado fascinado, o ano passado, com A Verdade Sobre o Caso Harry Quebert. Para além de ter sido escrito pelo mesmo autor, O Livro dos Baltimore tem também o mesmo protagonista, o que é um indicativo, por si só, de uma grande história para descobrir. Ao final da leitura, cheguei a duas conclusões. O Livro dos Baltimore é um livro muito bom mas inferior a A Verdade…, o que condicionou efectivamente a minha avaliação.
“A maestria de Joël Dicker é cada vez mais notória.“
A narrativa parece mais simples, o problema não é tão enigmático e as nossas desconfianças não são tão elevadas… numa primeira fase. À medida que a história avança, vi-me arrastado para um mistério aliciante e as personagens que vêm sendo introduzidas são todas elas de suma importância para a resolução do mesmo. O Livro dos Baltimore, a pouco e pouco, atinge os níveis de complexidade do livro anterior de Dicker.

Como pontos negativos de O Livro dos Baltimore, talvez a resolução final, apesar de ser bem amarrada e fazer todo o sentido, não ter tido o nível de espectacularidade ou de choque que eu esperava. Também o andar a saltar no tempo para a frente e para trás, não em dois ou três, mas através de vários anos, deixou a narrativa algo confusa em algumas frentes e, em algumas fases, cansativa. O protagonista é uma personagem muito boa, mas confesso que gostava que ele tivesse mais um ou dois defeitos e que não fosse tão perfeitinho.
Como pontos mais positivos, desde logo a capacidade de Dicker surpreender constantemente o leitor, sem dar todas as cartas – o seu talento para manter o suspense é realmente admirável. A sua escrita é também muito simples, fluída e agradável, conseguindo prender a partir da primeira até à última página. Os vários mistérios e a importância que dá a todas as personagens é uma mais-valia para qualquer romance.

O livro conta com um prólogo, um epílogo e cinco partes: O Livro da Juventude Perdida, O Livro da Fraternidade Perdida, O Livro dos Goldman, O Livro do Drama e O Livro da Reparação. Reencontramos Marcus Goldman, o famoso escritor que protagonizou A Verdade Sobre o Caso Harry Quebert. Certo dia, quando se prepara para escrever um novo romance, reencontra Alexandra Neville, uma famosa cantora que um dia foi a sua namorada, a única mulher que ele amou, a viver com Kevin Legendre, um famoso jogador de hóquei.
É então que Marcus volta a focar-se na sua vida passada, no Drama, um misterioso evento ocorrido em 2004 que não só mudou completamente a sua vida familiar como determinou o fim da relação com Alexandra. Marcus pertence aos Goldman, uma família de classe alta que, em determinado momento do passado, se dividiu em dois ramos por conta de problemas familiares. O dos seus pais, menos abastado, ficou conhecido como os Goldman de Montclair. O outro, conhecido como os Goldman de Baltimore.

Marcus sempre preferiu os Baltimore, sentia inveja e uma determinada obsessão por pertencer-lhes. De tal forma que se tornou amigo próximo dos seus primos, o de sangue, Hillel e o adoptado, Woody, com quem formaram um grupo chamado de a Gangue dos Goldman; apaixonado pelos tios Saul e Anita, as suas maiores referências e completamente enfeitiçado por Alexandra, que se tornou parte da gangue ainda antes de um incidente grave com o seu irmão Scott.
O ramo de Baltimore, próspero e bafejado pela sorte, vivia numa luxuosa mansão, encarnando a imagem da elite americana, abastada e influente, passando férias nos Hamptons e frequentando colégios privados. Mas uma série de eventos trágicos e segredos obscuros transformam a vida dos Goldman de Baltimore, e Marcus assiste de camarote ao seu declínio, tentando fazer o possível e o impossível para defender aqueles que sempre amou.

Recordando-se de tudo o que aconteceu até ao Drama, Marcus Goldman tenta encontrar um sentido para a sua vida e cicatrizar as marcas do passado, ao mesmo tempo que descobre pormenores que lhe estavam escondidos e detalhes para os quais nunca tinha tomado a devida atenção. Através da escrita do seu livro, das conversas com o seu vizinho Leo e dos reencontros com Alexandra, provocados pelo seu cão, Duke, Marcus revela-nos a história dos Goldman e maravilha-nos com ela.
A maestria de Joël Dicker é cada vez mais notória. É muito difícil para mim gostar tanto deste livro como gostei de A Verdade Sobre o Caso Harry Quebert, mas também não consigo esconder que o autor parece cada vez mais dotado na arte do suspense, com uma linguagem intimista e uma forma de contar as histórias peculiar. O Livro dos Baltimore foi uma ótima leitura, bem mais completa, complexa e emocional do que as primeiras páginas do livro me fariam supor.
Avaliação: 8/10
3 comentários em “Estive a Ler: O Livro dos Baltimore”