Quantas vezes tinha desejado ardentemente por Primaveras e Verões silenciosos como nos tempos da minha infância?
O TEXTO SEGUINTE ABORDA O LIVRO O CAÇA-CIDADES
Ana C. Reis dedica-se à escrita científica e ao marketing no domínio da biotecnologia durante o dia e a engendrar histórias fantásticas durante as noites. De nacionalidade portuguesa e residente no Estrasburgo, a cidade francesa que inspirou contos de fadas como “A Bela e o Monstro”, a autora confessa-se uma alma insatisfeita que usa a escrita como desculpa para reviver a magia que outrora povoou a sua infância.
Publicado em setembro de 2020, o livro de apenas 56 páginas tem edição de Graça Reis e Cláudia Amaral e uma belíssima arte de capa de Leonor Ferrão. O livro está disponível através da autora, mas também na Amazon.
Adquiri este livro sem saber nada sobre ele. O título era promissor. Será uma história de fantasia? Será outra coisa? Ao ler a primeira página, a dúvida adensou-se. O Caça-Cidades convida-nos a degustar, a ir compreendendo lentamente sobre o que fala afinal. Cheguei ao fim do conto completamente deliciado.
“E por aí, estão à espera do quê para ajudarem esta autora nacional?”
A escrita da Ana é muito bonita; para além de intimista e nos fazer mergulhar nos seus sentimentos, é toda ela muito certinha e delicada. Posso dizer que a maneira de escrever da autora foi o que mais gostei no livro. A história é ao mesmo tempo dura e ternurenta, um reflexo da vida em que, de uma forma ou de outra, penso que todos acabamos por nos reflectir. E faz-nos questionar.
SE QUISERES PASSAR PELA MESMA EXPERIÊNCIA DO QUE EU, NÃO LEIAS OS SEGUINTES MINOR SPOILERS
O livro, passado no Porto, fala sobre duas irmãs. As circunstâncias obrigam-nas a estarem juntas dentro de quatro paredes numa cidade vazia. A claustrofobia cresce entre as duas, nunca se deram bem e a morte do pai acaba por criar um fosso entre elas. Sofia sente tanta preocupação quanto receio em relação à sua irmã Helena.
De certa forma, é a vizinha Dolores, que foi enfermeira paraquedista na Guerra do Ultramar, que ajuda a colar os cacos em que a sua relação se transformou, fazendo-as passar por um processo de reconhecimento, abrindo um canal para que ambas possam comunicar uma com a outra e perceberem a origem dos seus actos passados.
Reparei que a sinopse no Goodreads é bem mais reveladora do que aquela que o livro traz na contracapa. O único reparo que posso apontar ao livro é que não existe nenhuma referência inicial à pandemia, pelo que me senti algo perdido para perceber porque as ruas estariam vazias (seria algum universo alternativo?). Só quando começaram a falar em máscaras é que fui compreendendo o contexto.
Aparte essa dificuldade de contextualização da minha parte, o livro é maravilhoso. A forma como a autora conta a história é de uma delicadeza muito bonita e fiquei com muita vontade de ler mais obras da Ana C. Reis. E por aí, estão à espera do quê para apoiarem esta autora nacional?
PS: Obrigado pela dedicatória. ^_^
Avaliação: 8/10
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