Ajoelhado atrás de Adèle como o rei Salomão atrás do trono de cedro do Líbano, agarrou com ambas as mãos as vinhas de Engaddi dela.
O TEXTO SEGUINTE ABORDA O LIVRO “A TORRE DOS LOUCOS”, PRIMEIRO VOLUME DA TRILOGIA HUSSITA
Natural da Polónia, Andrzej Sapkowski é um aclamado autor de fantasia, conhecido pela saga The Witcher e pela criação da personagem Geralt de Rivia, interpretada por Henry Cavill na famosa série homónima da Netflix. Vencedor de inúmeros prémios polacos e europeus, a sua obra já foi traduzida para mais de vinte línguas.
A saga literária The Witcher inspirou uma série de videojogos de grande popularidade que vendeu mais de 20 milhões de cópias no mundo inteiro. A série foi publicada em Portugal pela Edições Saída de Emergência, que aposta agora noutra obra do mesmo autor, a Trilogia Hussita, cujo primeiro volume de 2002 tem o título A Torre dos Loucos, um total de 544 páginas, tradução de Olga Bagińska-Shinzato e adaptação de Rui Azeredo.
Quando vi pela primeira vez a capa deste livro, perguntei-me se a Saída de Emergência iria publicar mais contos de The Witcher. Surpreendi-me com a resposta. A Torre dos Loucos nada tem a ver com o universo de Geralt de Rivia, sendo uma outra saga publicada pelo autor, que já deu origem a jogos de estratégia. Ao nível dos melhores volumes da sua saga mais conhecida, este primeiro livro é uma excelente porta de entrada e fico sinceramente feliz pela sua publicação.
“Apesar deste livro ser muito semelhante em tom à saga The Witcher, embora centrado numa única personagem, tal não é de todo um aspecto negativo.”
A Torre dos Loucos revelou-se, pois, uma excelente leitura. Este volume é grande, mais de 500 páginas, e como sabem tenho especial preferência por livros grandes. O tamanho faz jus à qualidade; apesar de não trazer nada de novo, esta trilogia trabalha muito bem com os tropos narrativos do género e desenvolve de forma consistente e cheia de ritmo a premissa central, sem grandes fillers nem subterfúgios.
Embora as profecias dissessem que o mundo chegaria ao fim em 1420, tal não aconteceu, nem nos anos seguintes. Porém, as guerras e as pestes acabam e recomeçam, como sempre aconteceu e, pelo meio, alguns escândalos. Reinmar de Bielau, famoso como Reynevan, é médico e há quem acredite, obscurantista e necromante. Os problemas deste jovem começam quando se apaixona por Adèle, a esposa de um famoso cavaleiro.
Aproveitando a ausência do marido numa determinada cruzada, os amantes envolvem-se e são apanhados pelos irmãos do cavaleiro. Na confusão que se gera, um dos nobres Stercza acaba por falecer, Reynevan é considerado culpado e, dada a influência da família, as suas alianças e as alianças que o próprio Reynevan forjará, haverá muitos interessados em capturá-lo. O seu destino será Narrenturm, a famigerada Torre dos Loucos…
Para os fãs de The Witcher, as comparações são óbvias. Um mundo de fantasia, personagens divertidas e pouco convencionais, jornadas cheias de contratempos, belas mulheres e monstros para enfrentar. O protagonista deste primeiro volume não é um bruxo, mas um mágico conhecedor de muitos truques e mezinhas, que meio mundo pretende matar. Soa familiar, não? A principal diferença é que esta Trilogia Hussita não é passada num mundo de fantasia, mas no nosso, em pleno século XV.
Apesar deste livro ser muito semelhante em tom à saga The Witcher, ainda que centrado numa única personagem, tal não é de todo um aspecto negativo. Sapkowski consegue sempre cativar com a sua escrita bem humorada e linguagem explícita, e consegue divertir e gerar um produto diferenciado de fantasia num período conturbado da História da Europa, mais propriamente na antiga Checoslováquia, Alemanha e Polónia.
Avaliação: 9/10
Trilogia Hussita (Saída de Emergência):
#1 A Torre dos Loucos
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