Estive a Ler: A Fortaleza Dourada, Pela Cabeça do Rei #1


Os seus olhos azuis-claros abriram-se mais a cada linha, e quando terminou, um sorriso idiota aflorou-lhe aos lábios, tão insistente que não o poderia ter arrancado mesmo que quisesse.

O TEXTO SEGUINTE ABORDA O LIVRO PELA CABEÇA DO REI: A FORTALEZA DOURADA

Nuno Almeida é formado em Línguas e Estudos Editoriais pela Universidade de Aveiro. Divide o tempo entre a escrita e o projeto multimédia The Saturn Junkyard, dedicado à mítica consola da Sega. Autor de vários contos publicados em Portugal e no Brasil, da fantasia à ficção-científica e história alternativa, estreia-se no romance com Pela Cabeça do Rei, vencedor do Prémio António de Macedo 2021.

A Editorial Divergência continua apostada em publicar novas vozes de ficção especulativa e o mais recente talento a ter a editora como montra é Nuno Almeida, que já se havia mostrado promissor em alguns contos avulsos na área do fantástico. A Fortaleza Dourada é o subtítulo de Pela Cabeça do Rei, um romance fantástico com 220 páginas.

A história acompanha Dragnar de Armas, um antigo guarda-costas do rei tornado mercenário, que vive em função de um desejo: cortar a cabeça de Sua Majestade. Para tal, contará com a ajuda de Reicard, o único homem em que confia; e Finrra, uma assassina contratada para o matar, mas para escapar à vida que abomina, junta-se a esta missão para honrar o exército real que foi abandonado quando mais precisava do seu rei.

Esta aposta no fantástico mais adulto é algo que, como autor, tenho vindo a fomentar, e que faz alguma falta no nosso país.

Será que Dragnar procura vingança ou quer impedir que o seu reino se desmorone? Dragnar irá raptar, torturar e matar, trair e ser traído. Tudo fará pela cabeça do rei, numa trama envolvente com muito humor, cabeças cortadas, surpresas ao virar da esquina e ação a rodos.

O romance que a dark fantasy nacional precisava. Pela Cabeça do Rei é um livro leve, divertido e bem humorado, que providencia uma leitura despretensiosa a quem queira desfrutar de um stand-alone sem grande complexidade. Apesar de poder tratar-se de uma saga, o que não fica muito claro com a descrição do título, é um livro que cumpre muito bem sozinho e que fica na retina por boas razões.

Nuno Almeida faz o tipo de livro assente no humor e no lado negro das personagens que autores como Joe Abercrombie praticam lá fora, usando alguma da História da Península Ibérica para criar reinos e personagens. A escrita é agradável e eficaz, a história é simples, as personagens têm desígnios muito lineares e bem definidos. Mas tudo isso é secundário, porque tudo o que importa é a obsessão de Dangmar de Armas pela cabeça do rei.

Esta aposta no fantástico mais adulto é algo que, como autor, tenho vindo a fomentar, e que faz alguma falta no nosso país. A grande maioria do fantástico que é escrito em Portugal ou usa uma abordagem mais urbana com pinceladas de horror, ou vai buscar o épico tolkieniano, com elfos, anões e orcs.

Se o primeiro exemplo tem tido alguns casos de sucesso e é válido, apesar de sair um pouco do género fantástico, o segundo não tem tido grande sucesso, muito porque é uma fórmula saturada que carece de criatividade, também porque não há autores portugueses a conseguirem fazê-lo bem. Nuno Almeida vai buscar a fantasia medieval para trazer uma trama adulta, bem humorada e muito competente, bem como eu gosto.

Avaliação: 7/10


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