Abriram-na, retiraram-lhe o apêndice já perfurado pela força purulenta que emanava dentro dele. Tarde demais.
O TEXTO SEGUINTE ABORDA O LIVRO OLHOS QUE COMIAM MEDO
Norberto Ribeiro nasceu em 1978, em Paredes, Porto. É doutorado em Ciências da Educação pela Universidade do Porto, onde trabalha como investigador desde 2006, tendo publicado vários artigos científicos em revistas nacionais e internacionais. Praticou futebol federado durante vinte anos. Gosta de ler e tem um gosto obsessivo por curiosidades sem importância.
Considera o silêncio imprescindível para poder ouvir as suas vozes interiores e escrever. Vive atualmente em Paços de Ferreira com a sua mulher e três filhos, e gostava de poder dilatar o tempo. Olhos Que Comiam Medo é o romance de estreia de Norberto Ribeiro, publicado muito recentemente pelas Edições Trebaruna com um total de 164 páginas.
Nos dias de hoje, encontrar autores nacionais que escrevam bem não é frequente, e encontrar autores nacionais que escrevam bem terror é realmente um achado. Olhos Que Comiam Medo fala de um “medo lancinante e impiedoso”, mas é sobretudo uma história de memórias, de abusos, de decadência moral, de pessoas que se perdem e de vivências profundas, tão características da nossa génese.
“Norberto Ribeiro é um nome a reter.“
Aceitei fazer um blurb para este livro da Trebaruna e fui agradavelmente surpreendido. Toda a conceção do livro é muito interessante, porque ele faz-nos mergulhar no nosso eu mais profundo e tentar compreender se aquilo que estamos a ler é fruto de alguma patologia ou se é o próprio horror sobrenatural que se destaca por aquelas páginas. As personagens também são bem descritas e elaboradas.
A história é protagonizada por Delfina, uma mulher sui generis que parece ter saído das páginas de um livro de Stephen King. Desde a nascença sofre com uma maldição horrível que a atormenta e constrange toda a sua vida. Seja quem for que cruze o olhar com o seu, sente uma necessidade imperiosa de contar tudo aquilo que receiam e o que sofrem com isso.
Procurando encontrar respostas para essa maldição e uma possível solução para ela, Delfina conhece uma livreira cega chamada Umbelina, que tem tanto de profeta como de espirituosa. É na sua jornada de descoberta que a protagonista se conhece a si mesma, bem como aos outros. Camada sob camada, ela vai destrinçando o melhor e o pior que existe no ser humano.
Este livro tem uma linguagem algo elaborada, que não prejudica mormente o processo de leitura. Não é comum ter autores portugueses a escrever bem horror psicológico e posso dizer que não conheço muitos como Norberto. O facto de o livro ser também muito pequeno também é uma mais-valia para a sensação de compromisso.
Olhos Que Comiam Medo é uma ótima aposta da Trebaruna, que continua a dar voz a tantos autores portugueses de sucesso e que nem sempre tiveram as melhores oportunidades. Seleccionar autores que tenham qualidade na escrita nem sempre é fácil, porque são muitos mais os que acham ter talento do que os que realmente têm, mas não obstante ainda há muitos nomes importantes e este também mostra sê-lo. Norberto Ribeiro é um nome a reter.
Avaliação: 8/10
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