Estive a Ler: A Laranja Mecânica


Para ali ficávamos depois de termos bebido o belo do moloco e visitava-nos o messel de que tudo à nossa volta estava como que no passado.

O TEXTO SEGUINTE ABORDA O LIVRO A LARANJA MECÂNICA

Influenciado pelo trabalho de James Joyce, Anthony Burgess ficou notabilizado apenas pelo romance A Laranja Mecânica, adaptada ao cinema por Stanley Kubrick no clássico de 1971 com Malcolm McDowell como protagonista. O livro data de 1962 e foi o décimo oitavo livro do escritor britânico. Várias polémicas permeiam a publicação deste livro, como a omissão do último capítulo nas edições norte-americanas, tendo também ficado de fora da adaptação norte-americana.

Como um clássico distópico que figura nas listas de melhores livros dos últimos séculos, A Laranja Mecânica conheceu já várias edições em Portugal. Li a edição especial do 50.º aniversário da obra, de 2012, pela Alfaguara Portugal. A edição conta com um total de 337 páginas, introdução de Andrew Biswell e tradução de Vasco Gato.

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Fonte: https://amenteemaravilhosa.com.br/laranja-mecanica/

A Laranja Mecânica é um livro incontornável da literatura distópica e, apesar de nunca ter visto o filme, era-me um romance muito bem referenciado. A trama pretende espelhar a visão do autor de um futuro para o mundo em que vivia, um futuro comandado pela violência e pelas leis das gangues, tendo também sido inspirado no estupro da sua esposa, em 1944, por quatro soldados americanos. O livro é dividido em três partes, contendo cada uma delas sete capítulos.

“Não me tendo tocado minimamente, acaba por valer essencialmente pelas mensagens sobre violência e livre-arbítrio que ele encerra.

A história é trivial, talvez imaginativa para a época, e pretende ser violenta, o que não achei particularmente, de forma visual. Seria um livro um pouco acima do mediano se o tivesse conseguido ler numa língua legível. Acabei por empancar completamente nas expressões inventadas pelo autor. A gíria denominada Nasdate permeia todas as frases do livro e o uso do glossário tornou a leitura muito cansativa e desmotivante, desinteressante até.

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Fonte: https://www.goodreads.com/book/show/17181518-a-laranja-mec-nica

CUIDADO! AQUI HÁ SPOILERS.

Uma sátira à sociedade inglesa, A Laranja Mecânica acompanha o líder de uma gangue apaixonado por música clássica, Alex, e os seus amigos Pete, Georgie e Lerdo. O protagonista assume o lugar de narrador, numa espécie de revisita aos crimes que praticou, um alerta para os jovens do amanhã que, acaba por concluir com satisfação, é provável que venham a cair nos mesmos vícios e a fazê-lo com cada vez mais brutalidade.

O livro foca-se muito na importância do livre-arbítrio de cada um, na dicotomia entre o bem e o mal, na ideia de que todas as ações produzem consequências. Por um lado uma autobiografia, considero-o também de certa forma burlesco no jeito com que o autor usa a comédia para caricaturar questões importantes como a violação, o bullying e os abusos de qualquer índole.

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Fonte: https://tenor.com/view/clockwork-orange-apologies-malcolm-mc-dowell-gif-3307678

A primeira parte do livro foca-se na vida de “ultraviolência” de Alex e da sua gangue, dos comportamentos abusivos e das rixas, o espelho da delinquência que o podem qualificar como um verdadeiro sociopata em estado bruto. Após perpetrar um estupro, o narrador segue uma linha de alto risco que o leva a assassinar uma idosa. A segunda parte do livro conta que ele vai para a prisão por assassinato, onde é sujeito a uma terapia apelidada de Tratamento Ludovico.

Através de drogas e da visualização de filmes violentos, Alex torna-se permeável e averso a todos os tipos de violência, uma vez que foi psicologicamente manietado tendo em vista a moldagem da sua conduta. Apesar da questão do livre-arbítrio ser posta em causa, Alex é colocado na rua. A terceira e última parte do livro mostra o protagonista em liberdade, onde se comporta como um sem-abrigo e tenta o suicídio, acabando por se reencontrar com o marido da mulher que estuprou.

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Fonte: http://obviousmag.org/genialmente_louco/2016/laranja-mecanica-a-construcao-do-robo-moral.html

São reveladas as verdadeiras intenções de Alex tanto para com a sociedade como para com o governo que o tentou manietar. Acabou por fim cansado, mas a sua sede de violência não foi realmente extinta. O título do livro, A Laranja Mecânica, deve-se ao título de um outro livro, este fictício. Aquele que o marido da esposa estuprada havia escrito, um autor chamado F. Alexander, que acaba por ser uma ficção do próprio autor Anthony Burgess.

Não me tendo tocado minimamente, acaba por valer essencialmente pelas mensagens sobre violência e livre-arbítrio que ele encerra. Leva-nos a pensar em quem é o verdadeiro vilão, se o personagem de Alex ou o se a sociedade que o quer moldar. É uma visão muito negra de Burgess que não foge muito a cenas que hoje testemunhamos no nosso dia-a-dia. O livro inclui uma selecção de entrevistas, artigos e recensões, assim como reproduções do manuscrito do romance com anotações e ilustrações.

Avaliação: 5/10


Avatar de Nuno Ferreira

2 respostas para “Estive a Ler: A Laranja Mecânica”.

  1. […] austera América, reunindo aliados e conhecendo novos deuses. Numa edição da Alfaguara Portugal, A Laranja Mecânica de Anthony Burgess é um dos clássicos distópicos mais famosos dos nossos tempos. A trama […]

  2. Avatar de TBM setembro 2019 – Notícias de Zallar

    […] A Laranja Mecânica, Anthony Burgess (5/10) […]

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