Então, evangelizar os selvagens? Suponho que seja um sonho secreto e altruísta?
O TEXTO SEGUINTE ABORDA OS ÁLBUNS #1 A #4 DA SÉRIE LONG JOHN SILVER [FORMATO BD]
Os autores:
Xavier Dorison nasceu em 1972. Após três anos passados numa escola comercial – durante os quais lançou um Festival escolar de BD –, começa em 1997 a escrever o argumento do primeiro volume de O Terceiro Testamento, série desenhada por Alex Alice. O sucesso foi imediato. Depois disso, trabalha com Mathieu Lauffray no primeiro volume da série Prophet, e com Christophe Bec na série Sanctuaire. Em pouco tempo, Xavier Dorison alcança um lugar de destaque na banda desenhada, lugar que é confirmado por W.E.S.T., série cujo argumento escreve em parceria com Fabien Nury, para o desenhador realista Christian Rossi. Xavier Dorison não se confina ao universo da banda desenhada: em 2006 é lançado o filme Les Brigades du Tigre, adaptação da série televisiva com o mesmo nome, que ele escreve em parceria com Fabien Nury.
É em 2007 que reencontra Mathieu Lauffray para a aventura Long John Silver, que alcançou um enorme sucesso. Em 2008, é convidado a escrever o argumento do primeiro volume de XIII Mystery, um spin-off da famosa série XIII. O volume é desenhado por Ralph Meyer. Com este mesmo autor, virá a criar Asgard, uma epopeia viking. Em 2014, com Thomas Allart, assina H.S.E. (human Sotck Exchange), uma narrativa futurista que antecipa as consequências possíveis de uma sociedade ultraliberal.

Autor bastante prolífico, trabalha simultaneamente em várias séries de BD, continuando em paralelo a escrever argumentos para a televisão e o cinema. Entre Le Chant du Cygne (2014), Red Skin (2014), Undertaker (2015), O Castelo dos Animais (2018) ou Aristophania (2019), Xavier Dorison deu provas de conseguir abordar géneros tão distintos como a aventura, o romance futurista, o western, o drama histórico ou o fantástico, sem nunca perder a dinâmica da narração e a consistência do enredo que caracterizam o seu trabalho. Não foi portanto por acaso que viu ser-lhe confiada a continuação de uma das maiores séries de aventura da BD franco-belga: nada mais nada menos do que a série Thorgal.
Mathieu Lauffray, nascido em Paris em fevereiro de 1970, revela desde muito cedo um vivo interesse pelo desenho. Depois dos estudos liceais, ingressa na École Nationale Supérieure des Arts Décoratifs, em Paris, onde faz amizade com dois jovens estudantes, Denis Bajram e Frédéric Contremarche. Em 1995, para a sua tese de licenciatura, realiza, com argumento de Contremarche, uma história em banda desenhada intitulada Le serment de l’ambre. Nesse mesmo ano, o primeiro volume da série é publicado.
No ano seguinte, Olivier Vatine propõe-lhe ilustrar as capas das suas adaptações de “Star Wars” em comic books. Mathieu Lauffray realiza assim cerca de trinta capas, enquanto, em paralelo, se dedica a diversos trabalhos de ilustração para a imprensa e outras áreas. Entre 1996 e 1997, efetua inúmeros desenhos, pesquisas e pinturas de todos os géneros para videojogos. Em 1997, encontra Christophe Gans, na altura jovem realizador de Crying Freeman, que lhe propõe trabalhar num ambicioso projeto de longa-metragem: Nemo.

Mathieu fica subjugado pela ideia deste filme, que adapta livremente o universo do romance de Júlio Verne Vinte Mil Léguas Submarinas. Faz inúmeras pesquisas e criações gráficas mas, após quase dois anos de trabalho, o projeto é posto de parte. Em 1999, Mathieu Lauffray e Christophe Gans renovam a sua colaboração em torno de uma outra longa-metragem que, essa sim, será bem-sucedida: Le Pacte des Loups. Para este filme, Mathieu desenvolve variadíssimos desenhos, trabalha nos storyboards e cria o caderno de viagem de uma das personagens, de nome De Fronsac. É também a sua mão que aparece no ecrã nas cenas em que De Fronsac desenha os seus famosos cadernos, cujas ilustrações figuram portanto em diversas cenas do filme.
Em 2000, Mathieu Lauffray reencontra a banda desenhada. Com a cumplicidade de Xavier Dorison, argumentista de O Terceiro Testamento, desenha uma nova série intitulada Prophet. O segundo volume é publicado em 2003 mas, desta feita, é o próprio Mathieu, sozinho, quem assina o argumento e o desenho. O 3º volume de Prophet é publicado em 2005. No mesmo ano, o seu encontro com Jean Vincent Puzos leva Mathieu a trabalhar numa ambiciosa produção internacional, 10 000 BC, realizada por Roland Emmerich. O ano de 2006 é ocupado com a realização do primeiro volume de Long John Silver, uma aventura de piratas que mais uma vez o une a Xavier Dorison. O quarto e último volume virá a ser publicado em 2013.

Esta série renovou o género da pirataria, conferindo-lhe um fôlego romanesco raramente visto em banda desenhada. Um art book, Axis Mund”, consagrado ao autor, foi publicado em 2013. Em 2017, o ano de Valérian, foi a oportunidade de Mathieu Lauffray colaborar com Wilfrid Lupano numa jubilatória aventura de dois agentes espácio-temporais revisitada por ambos. Em 2020, lança a solo um novo projeto, Raven, o seu regresso à grande aventura, o que lhe permite desenvolver o seu talento enquanto desenhador e narrador.
Sinopse dos livros:
Vol 1 (Lady Vivian Hastings): Abandonada pelo marido, embarcado há vários anos numa expedição que partiu à descoberta do Novo Mundo, lady Vivian Hastings permaneceu nas imediações de Bristol, Inglaterra. Sozinha? Nem por isso! Consciente dos seus atributos, a Vivian não lhe faltam pretendentes… Os quais, todavia, desconhecem a sua preocupante situação real: financeiramente arruinada e, sobretudo, grávida… Tudo muda no dia em que Vivian recebe finalmente notícias do marido, lord Hastings, que terá descoberto o mítico tesouro de Huayna Capac.
Para que o irmão possa ir ter com ele à América do Sul, manda despojar Vivian de todos os bens e pretende que ela ingresse num convento. Mas esta, recusando-se a fazer voto de castidade e de pobreza, decide empreender viagem para assim receber parte do tesouro. E, apesar dos avisos do Doutor Livesey, recorre a um bando de homens de índole duvidosa, cujo chefe é nada mais nada menos do que o temível Long John Silver… Vivian faz um pacto de sangue com este pirata, que se propõe levá-la de barco até ao Novo Mundo a troco de uma parte do tesouro.

Vol. 2 (Neptuno): Lady Vivian Hastings e Long John Silver deixaram Bristol para atravessar o Atlântico, rumo à mítica cidade de Huayna Capac… É aqui, em plena Amazónia, que lord Hastings terá descoberto o fabuloso tesouro escondido do Imperador Inca. Mas as tensões são fortes entre a bela Vivian e o temível pirata, apesar do pacto de sangue que os une…
Vol 3 (Labirinto de Esmeralda): Com a costa da América do Sul à vista, a tripulação do Neptuno vai finalmente poder respirar de alívio após a aterradora e perigosa travessia do Atlântico. Mas a tranquilidade é sol de pouca dura: Long John Silver, lady Vivian Hastings, o Índio Moc, o Doutor Livesey e aqueles que restam da tripulação vão ter de penetrar numa imensa floresta, sombria e hostil, em busca da mítica cidade de Huayna Capac e do seu tesouro…
Vol. 4 (Huayna Capac): A tripulação sobrevivente do Neptuno consegue por fim descobrir a misteriosa cidade de Huayna Capac, local onde um fabuloso tesouro estará escondido. Local, também, onde uma armadilha infernal se vai abater sobre eles! Cada um dos intervenientes irá descobrir o horrível segredo desta cidade, bem como a verdadeira personalidade do índio Moxtechica. Quanto a lady Vivian Hastings, grávida, não conseguirá esconder por mais tempo o seu estado e terá de superar esta derradeira provação…
Opinião: Estive a ler uma recente edição em quatro volumes de capa dura, resultado da parceria entre as Edições ASA e o jornal Público. Trata-se da adaptação em português da BD Long John Silver, com argumento de Xavier Dorison e ilustrações de Mathieu Lauffray. Através destes quatro álbuns ricos tanto em argumento como em desenho, que recomendo a quem goste de caças ao tesouro, descobertas arqueológicas, histórias de piratas e também de intrigas densas, descobrimos mais sobre a personagem título.
Long John Silver é o famoso pirata do livro de Robert L. Stevenson, A Ilha do Tesouro, que aqui conhecemos mais amiúde na óptica destes autores contemporâneos; não obstante, a personagem que mais me saltou à vista e que de certa forma protagoniza toda a trama é Vivian Hastings, que certamente terão muito gosto em conhecer.
Avaliação: 8/10