Seguiu Hayvar até às ameias da fortaleza. Contemplaram a fila de trabalhadores avançando com relutância. Sentir as ásperas agulhas dos pinheiros nas palmas das mãos, inspirar o ar perfumado de resina que deles se evolava, contemplar a paisagem de terras acobreadas a emergir da neve a desaparecer, um céu baixo sarapintado cobrindo tudo aquilo; ah, isto era o seu lar!
O TEXTO SEGUINTE ABORDA OS LIVROS “VENTOS DO NORTE” E “PRESSÁGIOS DE INVERNO”, PRIMEIRO E SEGUNDO VOLUMES DA SÉRIE ACÁCIA
Acácia é a trilogia de fantasia publicada pelo autor norte-americano David Anthony Durham. O escritor nasceu em Nova Iorque em 1969 e foi premiado várias vezes com os livros Gabriel’s Story, Walk Through Darkness e Pride of Carthage. A sua ascensão dá-se, porém, com a publicação da fantasia Acácia, que recebeu boas críticas em páginas respeitáveis como as do Publishers Weekly, Kirkus Reviews, SciFi Site and Fantasy Magazine, New York Times e Library Journal, sendo considerado uma das grandes revelações dos últimos anos na fantasia.
Actualmente, Durham vive com a família na Califórnia e dá aulas na Universidade de Fresno. A trilogia Acácia foi dividida em seis livros no nosso país pela Saída de Emergência, com o primeiro a ser publicado em 2011 e estando já concluída. O primeiro destes seis livros chama-se Ventos do Norte e tem um total de 368 páginas, mas uma vez que o primeiro e o segundo são um único volume original, publico a opinião aos dois em simultâneo. O segundo volume, Presságios de Inverno tem também 368 páginas e, assim como o primeiro, tradução de Maria Correia.

The War with the Main é o título original do primeiro volume de Acácia, traduzido em português em dois volumes. Ventos do Norte e Presságios de Inverno são dois volumes recheados de ação e reviravoltas, mas que me deixaram com uma sensação agridoce no fim da leitura. Terminei os livros no limiar entre o gostar e o não gostar, provavelmente por ter gostado muito de umas coisas e ter desgostado de outras. É melhor então explicar por partes.
“As personagens não oferecem nada de novo.”
A escrita é muito competente, mas a forma como a história é conduzida deixa a desejar. Demasiado rápida, fazendo avançar a ação sem deixar que as personagens se desenvolvam ou que ele próprio desenvolva o potencial de certas situações, focando-se mais em debitar História e em descrever cenários do que propriamente em moldar a personalidade das personagens.

Acácia também ginga muito entre a criatividade do autor e a falta dela. Posso dizer que o mundo, as raças e os povos são simplesmente incríveis, foram certamente aquilo que mais gostei nestes livros, mas o plot que ali corre é quase a história de Duna e, quando há livros que copiam uma ideia, é inevitável fazer comparações. Se vamos comparar Acácia com Duna em termos de construção de história e desenvolvimento, o livro de Frank Herbert está noutro campeonato. Bem superior, ressalvo.
Leodan Akaran é o governante de Acácia, um império predominante no Mundo Conhecido. Herdou um legado de aparente paz e prosperidade, conquistadas há muito pelos seus antepassados. Viúvo, é um homem inteligente que governa os destinos do mundo a partir de uma ilha aparentemente idílica. Aparentemente. É que não só o reino foi forjado com base na desgraça alheia, como prospera graças à disseminação do tráfico de drogas e à escravidão dos mais pobres no trabalho das minas.

Também vive dependente da Liga dos Navios, encabeçada pelo enigmático Sire Dagon, que possui grande influência sobre quem governa, graças às suas maquinações e poderes comerciais. Estes estão ainda ligados a uma seita pouco conhecida chamada Lothan Aklun. Leodan, também refém das drogas, espera pela oportunidade para conseguir mudar as deformidades em que foi fundado o seu mundo. Alheios a todos esses podres estão os seus quatro filhos: Aliver, Corinn, Mena e Dariel. Terão tempo para se preocupar com isso.
No outro polo deste jogo de poderes existe uma família chamada Mein, que se viu exilada há muitas gerações para a região invernal a que deu nome, e que pretende agora recuperar o poder, tramando acordos com aliados poderosíssimos, como é o caso dos numrek, uma raça terrível que monta rinocerontes lanudos. Graças aos seus subterfúgios, os irmãos Mein, Hanish, Maeander e Thasren fazem avançar as suas peças para subjugar Acácia aos seus desígnios.
Dentro do palácio há ainda Thaddeus Clegg, o chanceler. Apesar de ser o braço-direito de Leodan, a sua lealdade combate a inveja no seu coração e acaba por trair a família Akaran em prol dos Mein, apesar de se redimir a tempo de salvar as quatro crianças da queda do Império Acaciano.

As personagens não oferecem nada de novo. Alguns até me parecem pouco caracterizados, como Rialos Neptos ou Leeka Alain, que tinham tudo para revelar mais interesse que os demais. Aliver, Mena e Dariel, os supostos protagonistas, também não me despertaram qualquer entusiasmo, parecendo-me todas as suas ações tão vazias de personalidade e corridas ao ponto de não me permitir afeiçoar ou conhecer a fundo qualquer um deles. No meio de tudo isto, houve uma personagem que fez a diferença.
Hanish Mein foi o meu preferido em ambos os livros. Os capítulos protagonizados pelo principal antagonista foram deliciosos, e Corinn, que me pareceu baseada largamente na Sansa Stark das Crónicas de Gelo e Fogo, acabou por se tornar uma personagem também bastante interessante, por arrasto. Hanish destacou-se sobretudo por não ser um vilão linear, por nos ser dado a partilhar dos seus pensamentos e de haver uma dicotomia própria no seu íntimo.

Em suma, o vilão acabou por ser melhor desenvolvido que os protagonistas, o que facilitou também que o admirasse mais. Como disse anteriormente, as rivalidades entre as famílias, o passado da nação (apesar de serem aborrecidas algumas descrições sobre Tinhadin e outros heróis) e toda a panóplia de interesses sub-reptícios chamou muito a minha atenção.
O final do segundo volume foi pleno de reviravoltas e de mortes que não previa que acontecessem já, mas aparte as últimas sessenta páginas, todo o curso de ação do livro foi previsível e muito rápido. Fica a minha vontade de continuar a saga e de conhecer mais destas personagens e deste mundo visualmente incrível, diverso e multicultural, mas acabei por não desgostar nem gostar inteiramente destes dois volumes.
Estes livros foram cedidos em parceria com a editora Saída de Emergência.
Avaliação: 6/10
Acácia (Saída de Emergência):
#1 Ventos do Norte
#2 Presságios de Inverno
Viva,
Já li à algum tempo mas sem duvida que esperava bem mais desta trilogia, mas pronto seguir em frente 😀
Abraço
Fiacha
😂 Vou ler tudo e depois te direi.
😛 Até agora bem mediano e demasiado corrido.
Grande abraço.