Estive a Ler: Words of Radiance, The Stormlight Archive #2


But who is the wanderer, the wild piece, the one who makes no sense? I glimpse at his implications, and the world opens to me. I shy back. Impossible. Is it?

O TEXTO SEGUINTE ABORDA O LIVRO “WORDS OF RADIANCE”, SEGUNDO VOLUME DA SÉRIE THE STORMLIGHT ARCHIVE

Words of Radiance (2014) é mais um livro do popular escritor norte-americano de fantasia Brandon Sanderson, o segundo da série The Stormlight Archive, comummente aceite como a mais ambiciosa e complexa do autor. Para alguém alheio à literatura fantástica ou que ande apenas no mundo da lua, Sanderson é conhecido essencialmente pela saga Mistborn, mas também por ter terminado a série de fantasia épica A Roda do Tempo de Robert Jordan, após o falecimento deste.

É também conhecido por definir as leis da magia na ficção fantástica e por criar uma rede bem estruturada de sagas passadas no mesmo universo: a Cosmere, com várias personagens e ingredientes que se cruzam e interferem em vários dos seus mundos, como são caso as trilogias Mistborn, Elantris, Warbreaker e a BD White Sand. Quanto a este Words of Radiance, vencedor do David Gemmell Legend Award de 2015, li a edição original da Tor Books, com um total de 1087 páginas em capa dura.

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Sabes aquela sensação de um livro ser tão bom que não queremos que ele acabe? Senti isso com este Words of Radiance. E, de facto, não é um livro para ler de uma assentada. Embora Brandon Sanderson seja conhecido pelo ritmo altíssimo e este livro não ser de facto, parco em acontecimentos e reviravoltas, ele é bem grande e foca-se muito na construção e desenvolvimento de personagens. Espero, nas próximas linhas, conseguir explicar o porquê de ele ser algo diferente do primeiro volume, sem deixar de ser muito bom.

“Sanderson conduz-nos a uma catarse emocional incrível e só posso dizer que vou ler o terceiro volume o quanto antes.

Não há aqui um esqueleto narrativo que possamos comparar com aqueles joguinhos infantis de unir pontos, eu estou aqui, está ali um ponto, sigo-o com o lápis e no fim temos o corpo de um animal. A forma de Words of Radiance leva-nos a viver o dia a dia daquelas personagens. Tens um contentor de diálogos e de encontros a ser-te despejado em cima e muitos deles achas que não estão ali para nada. Mas estão.

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Fonte: https://www.amazon.com/Words-Radiance-Book-Stormlight-Archive/dp/0765365286

Depois de um primeiro volume arrebatador em cenas de batalha e em profundidade humana, Brandon Sanderson convida-te a assistir de camarote ao desenvolvimento de relações e ao estreitar de círculos. Em The Way of Kings, foste apresentado separadamente aos vários protagonistas, para na ponta final eles se começarem a cruzar. Em Words of Radiance, posso dizer que todos eles se conhecem e é desses cruzamentos, desse desenvolvimento de relações, que muito deste livro se faz.

Mas se pensas que, por esse motivo, ele é mais moroso de ler que o primeiro, deixa-me dizer-te que não. O primeiro volume é mais focado na apresentação do propósito das personagens, mas é também mais descritivo, descreve de forma exímia o trabalho dos bridgemen e as cenas de batalha. Em compensação, o segundo traz muitos mais detalhes sobre o mundo e as magias. E, finalmente, o lado mais espiritual da coisa mostra as caras e diz ao que vem.

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Vejam o nível de épico deste autor 😀 | Fonte: Facebook

O sistema de magia é complexo e incrível. Sucintamente posso destacar o surgebinding, a capacidade de sugar stormlights e ganhar poderes sobrenaturais, o voidbinding, que é o seu equivalente darkside, a magia antiga ainda pouco explorada ou mencionada, os spren que são os espíritos de tudo o que existe e que, quando se juntam a um humano, tomam forma, ou mesmo tecnologias como os fabrial, capazes de usar as stormlights e o seu poder. E, quem vai usar estas magias?

Estamos numa guerra decorrente do assassinato do rei Gavilar de Alethkar. Os humanos são representados pelos alethi, e o inimigo pelos parshendi, que assumiram a culpa moral pelo homicídio. Se no passado os parshendi foram derrotados, sendo dominados pelos senhores feudais que os converteram e/ou escravizaram e os denominaram de parshmen, agora eles estão mais fortes. Segundo Jasnah, filha do rei morto e uma estudiosa das matérias da mitologia, não obstante o seu pensamento ateu, eles são a manifestação atual dos Voidbringers (o darkside lá do sítio), que regressarão com a Everstorm.

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Dalinar e Adolin | Fonte: https://www.pinterest.com.mx/pin/466826317618111920/

É aqui que encontramos os protagonistas. O irmão do rei morto, tio do seu herdeiro Elhokar, é Dalinar Kholin. Ele pretende recrutar um novo grupo de eleitos para fazer as vezes de cavaleiros escolhidos (os Knight Radiants da mitologia) e para isso precisa unir todo o reino, dividido que estava pelos seus senhores nobres, os highprinces. E, apesar de ser difícil acreditar que o Nosso Senhor nos Céus lhe fala ao ouvido, todos o amam e reverenciam e Dalinar consegue mesmo a dedicação dos homens.

Dalinar é absolutamente incrível enquanto personagem. Um homem capaz de influenciar, capaz de quebrar, capaz de acertar e de errar, mas dono de uma sensatez imensa. Claro que há outros que, movidos pelos seus interesses pessoais, lhe vão fazendo frente. Um deles é Torol Sadeas. Se no primeiro volume ficamos com um pó a este senhor, não pensem que as coisas ficam mais agradáveis neste livro, onde o acompanhamos através do seu ponto de vista, que lamentei ter sido pouco explorado.

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O mapa de Roshar foi inspirado no Conjunto de Julia, um sistema matemático | Fonte: https://brandonsanderson.com/books/the-stormlight-archive/the-way-of-kings/the-way-of-kings-art-gallery/

Há toda uma aura de mistério, mas também de poder em torno dos highprinces e shardbearers que me agradou muito. A temática está super bem desenvolvida, os inimigos nem sempre são fáceis de detetar e felizmente que Dalinar está bem rodeado. Os seus filhos Adolin e Renarin são absolutamente incríveis, personagens de quem é facílimo de gostar, e depois há Kaladin.

Pois, Kaladin, o protagonista badass desta saga. Pretendo falar dele mais à frente, mas fica a nota que ele está lá, bem perto de Dalinar, e quem leu o primeiro livro e sabe quem é Meridas Amaram, digo-vos que também ele tem um papel determinante neste volume. Já Shallan, a principal personagem feminina da saga, acompanha Jasnah nos seus estudos e numa viagem até às Shattered Plains, onde é suposto se tornar noiva e encontrar a cidade perdida de Urithiru. Só que, pelo caminho, vários tropeções acontecem.

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Kaladin, my boy! | Fonte: https://picgym.net/cadmium.paintbrush/photo/1919982423798619048_2317824732

Se há algo que os dois livros têm muito em comum é que o set de desenvolvimento é praticamente sempre o mesmo do princípio ao fim. Há deslocamentos, viagens e tudo o mais, mas a maioria de The Way of Kings foi passada no campo de batalha e a maioria de Words of Radiance é passada na corte do rei Elhokar. São dois livros recheados de enigmas, de volte-faces, de perspectivas, mas acima de tudo sabem apresentar o comportamento humano e desenvolvê-lo. The Stormlight Archive é, acima de tudo, uma saga sobre pessoas.

Considerando que eu amei The Way of Kings, tinha as expectativas bem lá em cima. E, apesar de não me ter desiludido, não me rendi tanto a este. Aqui ou ali notei que Brandon usava os seus costumeiros deus ex-machina e intenções metidas a prego, algumas passagens foram mais paradas e o final pareceu-me algo forçado. Tem pontos melhores e outros menos bons, mas faz a ação evoluir de encontro ao que é pretendido, de forma bem gerida. E, lá está, nada se encontra ali por acaso.

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Shallan Davar | Fonte: https://www.michaelwhelan.com/galleries/shallan/

Se o primeiro livro foi protagonizado por Kaladin, a dona do pedaço neste segundo é Shallan Davar (logo a mais chatinha de TWoK). Apesar do seu ar meio pedante, das suas múltiplas facetas e de não ser muito fácil criar empatia com ela, penso que o seu plot foi muito bem desenvolvido e não caiu de pára-quedas no eixo central da trama. Shallan revelou-se uma boa surpresa, uma lufada de ar fresco num mundo de homens. Por muito que Navani seja uma personagem e tanto, não conseguiu trazer esta frescura e rebeldia que fazia ali falta.

E o autor conseguiu, com mérito, evitar cair em alguns clichés. Tudo bem que já sabemos mais ou menos que ela vai despertar alguns amores e agitar as águas na relação entre Kaladin e Adolin, mas as personagens não são assim tão preto no branco e ainda bem que o autor conseguiu mostrar isso. Se há personagem em quem podemos confiar menos, deste “triângulo”, se assim o posso chamar, será na própria Shallan.

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Que encontro épico.| Fonte: https://io9.gizmodo.com/words-of-radiance-brings-epic-back-to-epic-fantasy-1541600095

Posso dizer que Brandon fez um trabalho incrível em conseguir aproximar a personagem do leitor, todo o seu percurso é ótimo de ler, mas ainda há algumas nuances do seu comportamento que me desagradam e isso é muito bom, porque estou longe de desejar protagonistas perfeitinhos. É também através dela que conhecemos muito mais da magia e das intrigas e, por muito que o livro nos vá colocar Adolin e Kaladin perto dela, posso dizer que as suas interações com Dalinar foram para mim as melhores.

Já Kaladin perdeu alguma profundidade neste volume, apesar de os seus capítulos serem sempre os meus preferidos. No primeiro livro ficou óbvio porque todos o viam como um herói e o seguiam, até eu o quis seguir, mas aqui ele não mostrou tanto essas características. A dado momento, irritou-me o seu extremo preconceito para com os lighteyes, só porque todos os que ele conheceu lhe “lixaram a vida”. Felizmente, redimiu-se e em abono da verdade as cenas em que ele usa surgebinding são qualquer coisa de visualmente muito bom.

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Os protagonistas 😀 | Fonte: https://www.deviantart.com/thelostsindar/art/Stormlight-Sketches-497752252

Se Words of Radiance passa grande parte do seu (grande) volume imerso em problemas pessoais, em entrecruzar de histórias e em casá-las com grande perícia, é através dos interlúdios que conhecemos melhor outras terras, personagens ricas e misteriosas como o rei de Kharbranth Taravangian e o Assassino de Branco Szeth-son-son-Vallano, este sendo uma das mais-valias da saga. Eshonai também mostra muito bem o outro lado da barricada, na perspectiva dos parshendi, e as cenas de batalha na fase final do livro foram excelentes.

Há ainda o “factor bónus” desta saga, as suas ligações com outras obras ambientadas na Cosmere. Aqui temos Hoid como uma personagem importantíssima, ele que está em quase todos os livros deste Universo. Temos personagens que pertencem a outras obras do autor (o spoiler que eu apanhei ao pesquisar sobre um certo senhor colorido na net deixou-me aos saltos) e temos o Cognitive Realm que, quem leu Mistborn: Secret History sabe bem do que se trata. Sanderson conduz-nos a uma catarse emocional incrível e só posso dizer que vou ler o terceiro volume o quanto antes.

Avaliação: 9/10

Cosmere:

The Stormlight Archive (Tor Books):

#1 The Way of Kings

#2 Words of Radiance

#2.5 Edgedancer

#3 Oathbringer

#4 Rythm of War

Mistborn Era 1 (Saída de Emergência):

#1 O Império Final

#2 O Poço da Ascensão

#3 O Herói das Eras Parte 1

#4 O Herói das Eras Parte 2

Mistborn Era 2 (Leya):

#1 A Liga da Lei

#2 As Sombras de Si Mesmo

#3 Os Braceletes da Perdição

Mistborn (Tor Books):

#1 Mistborn: Secret History

Warbreaker:

#1 Warbreaker

White Sand (Dynamite):

#1 White Sand Volume 1

#2 White Sand Volume 2

#3 White Sand Volume 3

Elantris (Leya):

#1 Elantris

#* The Emperor’s Soul

Mulheres Perigosas (Saída de Emergência)

#* Sombras Para Silêncio nas Florestas do Inferno

(*) conto incluído em antologia


Avatar de Nuno Ferreira

22 respostas para “Estive a Ler: Words of Radiance, The Stormlight Archive #2”.

  1. […] #2 Words of Radiance […]

  2. Avatar de
    Anônimo

    Oie compadre,

    A ver se metes ai uma cunha para que a SDE publique mais livros deste escritor, fogo lermos estes comentários até nos deixa tristes por não publicarem por cá.

    Por falar nisso não vejo mais Erikson, hum….

    Abraço

    Fiacha

    1. Avatar de Nuno Ferreira

      Viva companheiro. 😛
      Erikson parece-me em banho-maria infelizmente.

      Grande abraço

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