Estive a Ler: As Sombras de Si Mesmo, Mistborn 2.ª Era #2


Ele estava tentado a chamar este dia de o pior da sua vida, mas isso certamente seria um exagero. O pior dia da sua vida seria quando ele morresse.

O TEXTO SEGUINTE ABORDA O LIVRO AS SOMBRAS DE SI MESMO, SEGUNDO VOLUME DA SÉRIE MISTBORN 2.ª ERA

Shadows of Self no original, As Sombras de Si Mesmo é o segundo volume da segunda era Mistborn, também apelidada de série Wax & Wayne. O autor é o famoso Brandon Sanderson, um dos mais comentados aqui no NDZ que, não satisfeito em criar todo um universo para as suas séries de ficção, a Cosmere, decidiu também mostrar a evolução desses mundos. Mistborn é a série que narra a vida no mundo de Scadrial.

O autor tem em mente fazer quatro eras para este mundo, sendo que ainda lhe falta finalizar o quarto e último livro desta segunda era, que será chamado The Lost Metal. Se a primeira era apresentou um mundo pós-apocalíptico com inspiração mais medieval, os eventos desta era passam-se trezentos anos depois, com a América do início do século XX como inspiração. Li a versão brasileira da Leya, com tradução de Márcia Blasques e um total de 336 páginas.

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As Sombras de Si Mesmo é um livro repleto de ação, adrenalina e plot-twists, como vem sendo apanágio do autor. Para mim, é seguramente um dos melhores volumes de Mistborn que já li até ao momento, se não mesmo o melhor. Não porque as revelações me tenham deixado on fire, como é comum acontecer, mas porque senti mais maturidade por parte do autor, um entrosamento bem sólido e, mais do que isso, finalmente Brandon Sanderson consegue trazer aquela irreverência e humor que lhe faltou na primeira trilogia.

“As Sombras de Si Mesmo é um ótimo livro de ficção fantástica, com uma reta final repleta de revelações surpreendentes.”

Depois de encontrar no primeiro volume um western mais tradicional, apesar de conter vários elementos tipicamente Mistborn, este segundo começou mais morno, sendo até bastante lento até ao final do primeiro terço do livro. No entanto, isso serviu para dar consistência ao volume, um pouco à imagem do que acontecera no segundo romance da primeira era, O Poço da Ascensão. Vamos então dissecar um pouco as personagens principais deste livro, sem spoilers que uma sinopse não traga.

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Fonte: http://leya.com.br/mistborn-segunda-era-vol-2-as-sombras-de-si-mesmo/

Waxillium Landrian é quase o Batman lá do sítio, embora não precise de se esconder atrás de uma máscara. Um justiceiro admirado por uns e odiado por outros, bem por conta das suas origens abastadas que muitos julgam não merecer. Nunca superou totalmente a morte da esposa, mas isso não o impediu de forjar um casamento por conveniência, que pode ditar o destino da sua Casa. É o grande protagonista da série, e apesar de ser perspicaz e emocional, é nas cenas de ação que ele se destaca, ao conseguir usar tanto a alomância como a feruquimia.

Wayne é o alívio cómico da série. Apesar de ser visto como o co-protagonista desta segunda era, Wayne tem um papel e uma importância muito menor do que Wax nas problemáticas de Mistborn. Ele existe praticamente só para gozar o prato, imitar sotaques e queixar-se da falta de chapéus, e não diz uma frase sem lançar uma piada. Neste volume, as interações entre Wayne e a kandra MeLaan foram simplesmente deliciosas, bem ao nível dos Gentleman Bastards de Scott Lynch. Aquela competição sobre quem arrotava mais alto foi um must.

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Fonte: https://inkthinker.deviantart.com/art/Mistborn-RPG-Alloy-Heroic-Archetypes-477273243

Marasi Colms é o terceiro vértice deste triângulo. Apesar da importância de outras mulheres nesta segunda era, como Steris, que aparece pouquíssimas vezes mas convence quando o faz, MeLaan, Lessie, Ranette ou Paalm, a Sangradora, Marasi é a única com pontos de vista. Ela é uma polícia de secretária com ocasionais trabalhos de campo, tenente sob a autoridade do alto comissário Claude Aradel. Inventiva, metódica, simples e empenhada, Marasi mostra-nos que a sociedade pode ser melhor se trabalharmos para isso.

“Sanderson soube jogar com o saudosimo dos leitores, mas essa está longe de ser a maior qualidade deste livro.

A cidade de Elendel é o palco de uma perseguição desenfreada à la Anjos e Demónios. Devido ao crescimento do desemprego e da corrupção, alguém decidiu virar o tabuleiro ao contrário. Anda um kandra louco à solta, e a vida do governador Replar Innate pode estar em perigo. Após a morte do seu irmão Winsting, num massacre que vitimou a grande maioria dos mafiosos de Elendel, o caos foi lançado na cidade e o governador tem um alvo na testa. Padres são assassinados, a comunicação social está em polvorosa, e cabe às autoridades assegurar o bem-estar da população.

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Fonte: https://www.pinterest.com/raremetaphor/brandon-sanderson/

Se em A Liga da Lei, o primeiro volume desta era, o ambiente tinha muito mais sinais de western, seja através dos tiroteios, bandidos de rosto coberto, armazéns abandonados, fabrico de armas, viagens de comboio e poeira no ar, este segundo volume é mais concentrado no centro da cidade, logo traz uma aura um pouco mais avançada, com maior destaque para a organização da polícia e para o dealbar dos primeiros automóveis a motor, que ainda causam estranheza ao comum dos mortais.

Ainda assim, momentos como a ida de Wax ao interior da cidade, onde se esconde uma vila terrisana, traz uma ideia de povoação indígena, e fica claro que esta Elendel vive num mundo que deveria ter evoluído mais, como sugerem as palavras de Harmonia. Monumentos e ruas são dedicados aos heróis da primeira era, como Vin, Elend, SustoBrisa ou Kelsier, mas mais do que isso, a partir deste segundo volume temos muitas mais referências ao Senhor Soberano e aos nossos velhos conhecidos.

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Fonte: https://calebrostedt.wordpress.com/2016/04/19/mistborn-second-era-review-wax-wayne-and-kelsier/

Não gostei particularmente que Wax tenha sido um escolhido pessoal de Harmonia, até porque prefiro abordagens mais casuais e menos fantasiosas, mas voltar a “ver” personagens como Sazed ou TenSoon foi uma sensação bem agradável, depois da breve aparição de um outro velho amigo, Marsh, em A Liga da Lei. Sanderson soube jogar com o saudosimo dos leitores, mas essa está longe de ser a maior qualidade deste livro.

Como referi antes, o humor de Wayne e MeLaan e as perseguições de Marasi e Wax à Sangradora foram excelentes, bem como as cenas de luta alomântica do protagonista, mas também as descrições dos eventos com o governador e a incrível festa em que Wayne se disfarçou de cientista ficaram-me bem marcadas na retina. As Sombras de Si Mesmo é um ótimo livro de ficção fantástica, com uma reta final repleta de revelações surpreendentes.

Avaliação: 8/10

Cosmere:

The Stormlight Archive (Tor Books):

#1 The Way of Kings

#2 Words of Radiance

#2.5 Edgedancer

#3 Oathbringer

#4 Rythm of War

Mistborn Era 1 (Saída de Emergência):

#1 O Império Final

#2 O Poço da Ascensão

#3 O Herói das Eras Parte 1

#4 O Herói das Eras Parte 2

Mistborn Era 2 (Leya):

#1 A Liga da Lei

#2 As Sombras de Si Mesmo

#3 Os Braceletes da Perdição

Mistborn (Noveletas):

Secret History

Warbreaker:

#1 Warbreaker

White Sand (Dynamite):

#1 White Sand Volume 1

#2 White Sand Volume 2

#3 White Sand Volume 3

Elantris (Leya):

#1 Elantris

#* The Emperor’s Soul

Mulheres Perigosas (Saída de Emergência)

#* Sombras Para Silêncio nas Florestas do Inferno

(*) conto incluído em antologia


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18 respostas para “Estive a Ler: As Sombras de Si Mesmo, Mistborn 2.ª Era #2”.

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  11. […] já me tinha agradado, estes dois volumes subsequentes foram ainda melhores. As Sombras de Si Mesmo é um dos melhores livros que já li de Sanderson, ao “ressuscitar” o mistério dos […]

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