O texto seguinte pode conter spoilers do livro “O Herói das Eras – Parte 2”, quarto volume da série Mistborn – Nascida das Brumas
Dividido em dois volumes, o livro final da trilogia Mistborn – Nascida das Brumas chegou às nossas livrarias e não esperei muito até o adquirir. E assim que juntei todos os volumes na minha estante, fiquei com a certeza que eles ficavam muito melhor se o último livro não tivesse sido dividido pela editora Saída de Emergência. Ainda assim, valeu a pena adquirir os dois livros. Depois de O Império Final e O Poço da Ascensão, Brandon Sanderson presenteia o leitor com uma míriade de respostas a perguntas que ficaram por responder nos últimos volumes, usando pequenos trechos antes de cada capítulo, para além da vivência dos personagens no decorrer deles, para elucidar o leitor.
Esta saga de fantasia passada num mundo pós-apocalíptico exige uma certa paciência e compreensão. A complexidade dos sistemas de magia (alomância, feruquimia e hemalurgia), do mundo (envolto em brumas e cinza) e das raças criadas pelo Senhor Soberano (kandra, colossos e inquisidores) veio surpreender o mundo da fantasia. Se já leste a primeira parte do último volume, lê a minha opinião aqui antes de avançares na leitura.
Neste segundo volume de O Herói das Eras, encontramos Susto, Sazed, Brisa e Alrianne na cidade de Urteau, liderando uma rebelião contra Quellion, O Cidadão, que governa austeramente a cidade. Tentando replicar a rebelião de Kelsier em Luthadel, Susto parece possuído por poderes sobre-humanos e o povo começa a idolatrá-lo, chamando-o de O Sobrevivente das Chamas. Mas serão esses poderes dignos de confiança? TenSoon foge do domínio dos kandra, desejando desesperadamente alcançar Vin para a auxiliar contra as forças malignas de Ruína.
Por sua vez, Vin encontra-se retida na cidade de Fadrex, onde uma silhueta familiar visita-a com um propósito maligno, enquanto Elend tenta desesperadamente pôr fim a um cerco e vencer os seus dilemas. Afinal, o Senhor Soberano tinha os poderes de um deus, mas os verdadeiros deuses eram Ruína e Preservação, e Preservação está a morrer. Como podem homens mortais vencer um deus? Bem, Vin matou o Senhor Soberano no primeiro volume… No entanto, Rashek tinha um corpo físico.
SINOPSE:
Quem é o Herói das Eras?
O mundo aproxima-se do fim, esmagado pela força imparável de Ruína. Vin, Elend e os companheiros procuram desesperadamente opor-se-lhe, mas nada do que fazem parece ter algum efeito ou, quando o tem, é o oposto do que pretendem. De que serve a mera alomância contra um deus?
Especialmente quando não parece haver nada além dela, pois até as misteriosas brumas, em tempos aliadas, parecem ter-se tornado malignas. Mas será que desistir é uma opção? Terá chegado o momento de baixar os braços e aceitar o fim de tudo o que se ama?
Num mundo sufocado pela cinza e abalado por erupções contínuas e violentas convulsões sociais que afetam até a sociedade pacífica dos kandra, são estes os dilemas com que os sobreviventes do velho bando de Kelsier vão ser confrontados neste derradeiro volume da saga.
OPINIÃO:
Termino esta saga de fantasia com alguma nostalgia e, sem sombra de dúvidas, muita satisfação. Passei os últimos meses a ler estes livros e apontar-lhe falhas e incongruências, não duvidem que eles as têm, mas a forma como os personagens foram construídos, os seus dilemas e questões, fazem de Mistborn mais do que uma série de fantasia. Ela fala sobre política, teologia, ter princípios e honra, liderar, viver e sobreviver. E ainda não falei sobre o final brutal da saga.
Comecemos pelo aspeto que menos me agradou: as raças criadas e as explicações oferecidas. Tudo bem, Sanderson consegue neste último volume amarrar pontas e dar explicações consistentes. Mas odiei a hemalurgia, os colossos e os kandra, apesar de não negar o mérito do autor na sua criação. O domínio de Ruína sobre os hemalúrgicos veio tapar muitas brechas deixadas nos restantes volumes, mas achei exagerada a divinização de certos personagens.
Num mundo que o autor trabalhou no sentido de deixar credível, não gostei que o sobrenatural acabasse por ter tanto protagonismo no final do livro. Fiquei com a sensação que tivemos permanentemente a receber explicações ao longo da “trilogia”, o que demonstra que o autor não tinha bem noção de como fechar as brechas que abria, e apesar de críveis, algumas soluções soaram-me forçadas. Ainda assim, as explicações deste último volume foram muito mais consistentes e sentenciadoras. Aceitei-as, mas não as engoli.
Através de Elend, Brandon Sanderson aborda a forma como os aspirantes a líderes devem agir, desenvolvendo comportamentos coerentes e alternativas para lidar com potenciais dificuldades, a forma de liderar os domínios tomados e o tratamento a dar aos povos submetidos, de modo a firmar o seu poder. Com Sazed, aborda a fé e a falta dela, discutindo a importância das religiões e a verdade que nelas há.
Com Vin, a temática do amor e da confiança salta à vista. É uma das personagens com quem menos me identifiquei, mas não só a forma como ela aprendeu a confiar, como a forma como todos depositam nela as suas esperanças, fala muito sobre cada um de nós e das nossas vivências. Através de Susto, o autor mostra como até a pessoa mais subestimada e ignorada pode fazer a diferença.
Uma ou outra cena podem ter sido expectáveis, previsíveis, mas nada me havia preparado para o final que Sanderson reservou a esta primeira série de Mistborn. Pessoas tornaram-se deuses, sujeitos improváveis tiveram papéis determinantes na luta pela sobrevivência do mundo, personagens secundários tomaram o papel principal. O final dos protagonistas e a revelação do Herói das Eras surpreenderam-me. Foi um remate bem dado que me faz dar a nota que dou a este livro. Mas este final, intenso e abrupto, dos melhores que já li na vida, quase merecia nota máxima, não fossem os handicaps acima registados.
Nota: 8/10
Cosmere:
The Stormlight Archive (Tor Books):
#2.5 Edgedancer
#3 Oathbringer
#4 Rythm of War
Mistborn Era 1 (Saída de Emergência):
#4 O Herói das Eras Parte 2
Mistborn Era 2 (Leya):
Mistborn (Tor Books):
Warbreaker:
#1 Warbreaker
White Sand (Dynamite):
Elantris (Leya):
#1 Elantris
Mulheres Perigosas (Saída de Emergência)
#* Sombras Para Silêncio nas Florestas do Inferno
(*) conto incluído em antologia
Comentário